“Se por estarmos em Cristo, nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão, completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude.” (Filipenses 2.1-2)
Este texto escrito por Paulo aos irmãos em Filipos é uma convocação para tornassem efetiva na vida a fé que já habitava seus corações. Eles já conheciam a graça de Cristo, o amor de Deus. Já haviam crido e formavam uma comunidade de fé. Mas podemos considerar, diante da carta de Paulo, que ainda não haviam assumido toda a grandeza da graça do Evangelho que os havia alcançado. Paulo escreve de forma provocadora. Sua retórica tem o tom de quem ironiza. “Se por estarmos em Cristo, nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão…”. É claro que estavam em Cristo e é claro que tinham tudo isso e muito mais! Mas deveriam fazer isso valer!
Tinham tudo para uma vida cheia de frutos, uma vida repleta dos valores e marcada por amor e serviço, conforme se expressa o Reino de Deus. Mas estavam precisando de exortação para que vivessem a vida de quem havia recebido vida nova em Cristo. Este é um problema típico e que podemos ver ainda hoje. Formamos igrejas, comunidades de fé, mas cuja presença na cidade e cujos valores revelados pelo estilo de vida dos irmãos e irmãs deixam a desejar, diante da exuberância de vida que há em Cristo. Sim, há muito mais em Cristo do que tantas vezes revelamos, ao ponto de nossas liturgias serem muito mais cristãs que a nossa vida, quando nossa vida deveria ser mais cristã e fervorosa que nossas liturgias. O problema não é o fato de sermos seres humanos, frágeis e marcados por tropeções. Nossas fraquezas jamais serão o problema. Nosso descompromisso e falta de devoção é que complica tudo.
O problema é essa falta de unidade, de pertencimento, de entrega e acolhimento. Nosso problema é que fomos recebidos imerecidamente por Deus em Cristo mas não sabemos receber uns aos outros. O problema é que Deus suporta misericordiosamente nossas maldades e fraquezas, mas nós não conseguimos fazer isso uns com os outros. Estamos sempre a nos julgar, a condenar e considerar inaceitável o cisco do olho do nosso irmão. Coamos mosquitos e engolimos elefantes. Precisamos fazer valer na relação entre nós os valores e princípios que Deus aplica na relação conosco. Só teremos o mesmo pensamento, o mesmo amor, o mesmo espírito e atitude se fizermos valer a vida própria daqueles que estão em Cristo. Vivo, não mais eu, mas Cristo (Gl 2.20), é isso, e se revela na atitude que temos, uns para com os outros! Uma vez que estamos em Cristo, vivamos a vida de quem segue a Cristo.