Uma questão de justiça?

“Então Jó respondeu: bem sei que isso é verdade. Mas como pode o mortal ser justo diante de Deus? Ainda que quisesse discutir com ele, não conseguiria argumentar nem uma vez em mil.” (Jó 9.1-3)

Jó está respondendo a Bildade, que havia lhe proposto o caminho da justiça, de apresentar-se a Deus e defender sua integridade, pois então receberia o bem por seus méritos. Jó diz que sabe que Deus é justo, mas quem poderia ser justo diante de Deus? Neste capítulo há dois pontos fundamentais ligados à compreensão de Jó sobre a justiça de Deus: quais os critérios usados por Deus e qual a responsabilidade de Deus quanto aos acontecimentos na história. Sobre o primeiro refletiremos hoje e, amanhã, sobre o segundo.

Como cristãos cremos que Deus é justo, mas, assim como Jó, não podemos saber os critérios de Sua justiça. Pelo menos não, em grande parte. A vida é muito mais profunda do que podemos enxergar. Como a luz do sol perde força e não chega aos pontos mais profundos do mar, assim é nossa compreensão da vida. Muitas verdades não vemos, outras não queremos ver, e vivemos em ilusões. Ilusões sobre nós, sobre os outros, sobre a vida e também sobre Deus. Basta lembrar o que disse Pascal: “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Se o nosso próprio coração nos é oculto, como podemos pretender entender as intenções de outros corações, da vida que resulta de tantos corações e Deus?

Vivemos num mundo sem garantias e cremos num Deus que não podemos compreender. A fé cristã tem também esta face, por menos que gostemos dela. Mas estamos seguros pois Deus nos ama e é rico em misericórdia. Se aprendermos a crer e confiar, nos sairemos bem. Não podemos entender Sua justiça, mas podemos viver de Sua graça. Ainda que nos deixe falando sozinhos, como fez com Jó, Ele não nos abandona. Lembremos que a última palavra é sempre dele. A fé pode ser desconfortável as vezes, mas é o caminho mais seguro para andar nos terrenos escorregadios da vida. Graças a Deus não dependemos de nossa justiça. Talvez devêssemos jamais questionar a dele.

 

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