“Mas vocês não devem ser chamados ‘rabis’; um só é o mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. A ninguém na terra chamem ‘pai’, porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. Tampouco vocês devem ser chamados ‘chefes’, porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo.” (Mateus 23.8-10)
O capítulo 23 de Mateus começa com Jesus fazendo uma crítica aberta aos mestres da lei e aos fariseus. Diz o texto que Ele falou à multidão e aos discípulos. Não foi uma fala reservada. E a crítica tinha a ver com vaidade e amor ao poder. Jesus disse que aqueles líderes haviam se “assentado na cadeira de Moisés”, ou seja, assumido uma posição de autoridade – alguém com direito a falar e ser ouvido! Todavia, não eram bons exemplos e haviam corrompido o caminho espiritual. O que ensinavam coloca sobre os ombros dos outros um peso que eles mesmos não se dispunham a suportar! Eles exigiam o que não davam. Não somente isso: eles desejavam ser admirados e honrados, e faziam o que podiam para serem o centro das atenções. Era essa a religião instituída, com sua estrutura e relações de poder. Diante dela Jesus declarou como deveriam ser as relações entre seus seguidores. Ele ensinou um outro tipo de sociedade, de comunidade e de relacionamentos.
Entre eles não deveria haver ambição pelo poder ou busca por grandeza. Ninguém deveria desejar ser tratado como mestre e todos deveriam tratarem-se como irmãos, como iguais, tendo todos um só Mestre, que não era nenhum deles. Também não deveriam colocar suas vidas na dependência de outros, como se pessoas, e não Deus, zelasse e cuidasse de suas vidas. “A ninguém na terra chamem pai” significa “a nenhum líder espiritual confiem suas vidas, como se dele dependesse sua segurança e bem estar”. Usando um termo que se popularizou em alguns meios, não vem de pessoas nossa “cobertura espiritual”. Há somente um que é Pai, que a todos cobre com Sua graça, de quem a vida de todos depende. Jesus não estava criticando as relações familiares, mas os abusos religiosos. E também não deveria haver entre eles uma relação de superioridade, do tipo “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Uma relação em que alguém, com poder, pudesse tomar decisões sem serem questionados.
Esse é o tipo de sociedade que uma igreja cristã deve aprender a ser. Nela não está ausente as diferentes responsabilidades e até mesmo certa autoridade possibilitada pela responsabilidade. Mas sua natureza não é ser uma sociedade baseada na hierarquia, no poder e nos privilégios. Uma sociedade em que poucos tem mais direitos e fazem-se superiores. Não é essa a natureza da igreja, porque não é esta a natureza do Reino de Deus. Ninguém deveria se colocar na posição de poderoso ou superior e ninguém deveria aceitar a condição de subalterno e inferior. Para vivermos nestes moldes precisamos de mudança de mentalidade. A mentalidade religiosa precisa dar lugar a uma mentalidade cristã. O amor deve ser o principio a reger a vida. No amor há respeito em lugar de abuso e ordem, sem precisar de controle ou poder. Parece utópico? Bem-vindo ao Reino do Rei que é servo e se fez pecado pelos pecadores!