“Um olhar espiando o vazio é lembrança. Um desejo trazido no vento é saudade.” – Paulinho da Viola
Este trecho da música me recorda um pedaço de minha juventude, quando era docemente irresponsável, quando era alegremente pobre, quando o mundo ainda estava para ser conquistado.
Meu olhar, ouvindo esta música, é composto de lembrança e saudade.
Todos com mais de cinquenta têm suas histórias, histórias dos bairros onde viveram, pessoas que conviveram, perdas quase sempre tristes, histórias de pobrezas e injustiças acumuladas; de violências sofridas, de filhos mortos antes de nascer e de amantes que vão embora.
Pela Bíblia, no paraíso, o homem era inocente como os bichos, ele apenas vivia cada dia com alegria, comendo, bebendo, se divertindo. Mas, ao mastigar a carne da maçã vedada, ele passou a saber de algo que não sabia: do futuro.
O homem é o único animal que tem a noção de futuro e, por isso, se angústia. Esse é o grande drama humano, depois que fomos jogados para além das margens dos quatro rios do Jardim do Éden. O futuro.
O futuro é a razão de nossos tormentos e da riqueza dos psicanalistas. O futuro! É o que representa aquela maçã. É a sugestão que ela nos faz. O futuro inquietante, o futuro incerto, o conhecimento que titila o desejo, mas que traz aflição.
A música de Paulinho da Viola continua:
“A vida da gente é mistério
A estrada do tempo é segredo
O sonho perdido é espelho“
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.