“Na terra de Uz vivia um homem chamado Jó. Era homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava o mal.” (Jó 1.1)
Um lugar, um tempo, uma pessoa descrita como justa e temente a Deus. Assim começa a história de Jó. História surpreendente. Assim como pode ser surpreendente a história de qualquer de nós, de um vizinho ou de alguém desconhecido. Emergindo do pensamento judaico e de um contexto repleto de deuses buscados por homens com o propósito principal de serem protegidos e prosperarem, a história de Jó fala de um Deus que entrega Jó à dor e fica em completo silêncio. No final ele é recompensado, mas quantos de nós chegaríamos ao final como ele chegou?
Jó enfrentou circunstâncias que destruíram impiedosamente suas ilusões espirituais. Sua vida seguiu rumos que o deixam quase louco e descrente. Ele desejou brigar com aquele a quem costumava adorar. Talvez já tenha acontecido com você. Viu? Não somos os primeiros a estranhar Deus, a considerar Suas opções de ação (ou omissão) contraditórias. É incrível ver as atitudes de Jó e igualmente incrível ver como os discursos de seus amigos são contemporâneos. Não é novo o desejo de controlar Deus e de poder acioná-lo com nossa fé ou com nosso merecimento. Esperamos controlar a vida como se fosse uma lavoura: plantar e colher, sem surpresas. Bem gerando bem, mal gerando mal. Mas é assim a realidade? Bons sorriem e maus choram, como deveria ser? A vida não segue o manual e nós nos enganamos sobre “bem” e “mal” muitas vezes.
Estamos iniciando nossas meditações em Jó. Esse livro me inquieta e às vezes me assusta. Aos leitores talvez deva advertir que este mês, mais do que em outros, não lhe oferecerei um energético espiritual, aquela “palavra animadora” para levantar seu dia. Convido-lhe a refletir sobre o quanto Deus é incontrolável, não manipulável, e, algumas vezes, inesperado. Convido-lhe a olhar para uma incrível história em que tudo é destruído e um fiapo de homem, com um fiapo de fé, enfrenta o pior da vida. Convido-lhe a uma história inacreditável que muito por nossa fé. Vamos a ela, de onde estamos: alguém, num lugar, num tempo, a mercê da vida e do que Deus decidirá fazer a respeito.