“Não julguem, e vocês não serão julgados. Não condenem, e não serão condenados. Perdoem, e serão perdoados.” (Lucas 6.37)
Ser cristão envolve o cuidado de fazermos o que devemos fazer, mas também de evitarmos fazer o que não deve ser feito. Há, por assim dizer, uma ética cristã a ser seguida. Uma ética anunciada pelo próprio Cristo e que devemos nos esforçar em seguir. O desvio ético em nossa fé, além de uma falha é também um pecado. E conforme é possível ver no texto de hoje, entre aquelas coisas que nos cabe evitar está a prática de julgar o nosso próximo. Deus repartiu conosco o dever de amar cada pessoa e reteve para Si mesmo a responsabilidade de julgar, quem quer que seja. O Evangelho deixa isso claro! Mas parece que não entendemos o recado. Falta amor entre nós e sobram julgamentos! E julgar é algo impróprio para um seguidor de Jesus.
Alguns poderiam argumentar, e com razão, que Jesus também falou sobre a necessidade de julgar. Afinal ele disse que, a exemplo de uma árvore, as pessoas podem ser conhecidas pelos seus frutos. Logo, vendo os frutos, podemos julgar se uma pessoa é boa ou má, se agiu certo ou errado.
De fato, o mandamento para não julgar não exclui todo e qualquer julgamento. Mas, sem dúvida, o coloca em um lugar específico: sob o domínio do amor. É importante observar que a palavra de Jesus para não julgarmos encontra-se no contexto em que está ensinando sobre o dever de se praticar a misericórdia e de se amar ao próximo. Logo, não julgar está relacionado a ser misericordioso e amoroso. O que significa que, no mínimo, o amor e a misericórdia devem disciplinar nosso julgamento. Posso considerar errado algo que uma pessoa tenha feito ou mesmo seu estilo de vida. Mas não tenho o direito de reduzi-la a isso e despreza-la, negando-lhe respeito e amor. Não tenho o direito de ofende-la ou negar-lhe os direitos que eu mesmo desejo para mim. Logo, dizer que “bandido bom é bandido morto” ou que “direitos humanos são para os humanos direitos” é contrário à ética de nossa fé. E o é porque, na disciplina do amor e da misericórdia, o culpado deve ser sentenciado, mas também deve ser respeitado. E seres humanos, ainda que errados, tem direito a um tratamento humano.
Portanto, diante da inevitabilidade de julgar, devemos ter em mente o dever de amar. Devemos também temperar nosso julgamento com a consciência de que somos pecadores. Embora possamos diferir em nossas fraquezas e maldades, embora tenhamos sérios problemas com alguns pecados e não com outros, aos olhos de Deus somos todos pecadores. Temos portanto uma difícil lição a aprender e para isso precisamos amadurecer.
Portanto, que o amor seja inegociável em nossa vida. Que abracemos firmemente o compromisso de amar a Deus e às pessoas. Ao ler as Escrituras, que o façamos com o coração e a mente, clamando pela ajuda do Espírito Santo. Que leiamos a Bíblia com os olhos abertos para a vida, e assim evitemos leituras simplistas e pouco saudáveis. Que sejamos mais seletivos quanto ao que ouvimos, buscando vozes que nos ajudem a pensar, que nos provoquem questionamentos em lugar de estreitar a visão. Por fim, que possamos partilhar a vida com outros. É na comunhão que seremos aperfeiçoados e poderemos amadurecer.
Que ajudados pelo Espírito e ajudando uns aos outros, sejamos capazes de seguir a ética proposta por Cristo.