Um andarilho pela estrada da vida

Por Pedro Ivo Rodrigues

A vida é um dos maiores e mais fascinantes fenômenos da natureza. Tudo começa num relacionamento sexual, com união de gametas, e pronto!Tratando de humanos, surge um novo ser, impoluto, de feição angelical, puro, como que quebrando a casca de um ovo e surgindo para um mundo de dor…ou de vitórias…

Ao ver uma mulher com um bebê nos braços, me pergunto se aquela criança é uma benção, uma manifestação do milagre divino, ou um fardo, uma carga a mais para a sociedade e o planeta como um todo suportarem.

Ao longo da minha jornada, tenho observado que tudo pode ser modificado pelas mãos do destino. Já conheci quem gozasse de grande prosperidade e que pereceu na mocidade e também quem viveu em casa humilde e que galgou altos degraus na escala social.

Em minhas reflexões, sempre me defronto com a questão de que ainda teimo em acreditar que a existência deveria obedecer a uma lógica, isto é, que tenha que ter algum sentido. No entanto que sentido as nossas vidas podem ter se elas mesmas não nos pertencem, se não lhes dispomos para determinar a sua duração nem se alcançaremos os nossos propósitos ou não?

Como diz o Eclesiastes, tudo é “vento que passa”, “tudo é ilusão”. Para Qohélet, não há diferença qualitativa entre o sábio e o insensato, pois ambos terão o mesmo fim, ambos desaparecerão. “Os homens não são lembrados pelos seus pósteros”, diz o mesmo.

Tudo isso me leva a pensar nas situações que vivenciei, nas pessoas que passaram pela minha vida e que se tornaram mera lembrança ou saudade. Amigos e amores do passado se tornam nada, poeira que desaparece no tempo. O sentimento fica, mas até esse se dilui com os anos.

O sol, as estrelas, os rios e os mares já existiam bilhões de anos antes de surgirmos e existirão outros bilhões depois que deixarmos de existir. “Penso, logo existo”, pensou Descartes quando sintetizou o que seria o homem, mas como esse raciocínio poderia ser válido se a maior parte da matéria é inanimada ou simplesmente irracional?

É justamente a efemeridade da vida, a nossa subordinação ao acaso, que me faz considerar que uma das coisas mais graves que podemos fazer é desperdiçar oportunidades. “Só me arrependo do que não fiz”, ditado popular que tenho comigo.

Em um dos seus poemas, o baiano Ruy Espinheira Filho fala que só depois é que enxergamos o que deveríamos ter feito e que não fizemos. “O que fazer com essa inútil descoberta?”, questiona.

Seja nos momentos de amor, no êxtase do sexo, nos estados de ira ou nos de alegria, na abundância ou na carência, na altivez ou na vergonha, tudo o que somos é insignificante para a ordem dos acontecimentos. Como um sonho que acaba é a vida terrena. Podemos despertar na longa noite do universo, como uma criança que levanta da cama?

Talvez, se despíssemos a nossa personalidade da majestade fabricada pelo ego, tola e vã, compreendêssemos finalmente uns aos outros, ao invés de buscar a auto-afirmação egocêntrica. Ninguém é nada nesta vida.

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