DTE avalia formas de inibir a venda da droga mais letal que o crack
A pedra tem pouco mais de uma grama, peso parecido ao de uma bolinha de gude. O acabamento tosco e a coloração amarelada lhe dão uma cara de doce envelhecido. Mas se na palma das mãos ela ganha um aspecto simplório, quando queimada e pitada em um cachimbo, é capaz de devorar o usuário em até oito meses.
Essa pedrinha traiçoeira chamada oxi – pronuncia-se ócsi -, já começou a ser garimpada em solo baiano e está preocupando a Polícia. Na terça-feira, foram apreendidas 87 pedras em Itapetinga, a 623 quilômetros de Salvador. Elas estavam com Vinícius Ribeiro Moura, 23 anos.
O delegado plantonista da Delegacia de Repressão a Tóxicos e Entorpecentes (DTE), André Garcia, afirmou que o Departamento de Narcóticos se reunirá para discutir as medidas para inibir o tráfico da droga, que ainda é pouco conhecida em Salvador. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 30% dos usuários morrem nos primeiros oito meses de uso.
“O oxi é parecido com o crack, é feito da pasta da cocaína, só que é produzido com material bem mais barato. Aí mora o perigo”, explicou. A mistura leva cal virgem, combustível – pode ser gasolina, querosene ou diesel -, e fluido de bateria de automóveis, todas substâncias altamente corrosivas.
Garcia não acredita que a droga apreendida em Itapetinga tivesse Salvador como destino. Para ele, o oxi seria levado a Itabuna e Ilhéus, no Sul do estado. “A quantidade é pequena. Ela deveria ser levada para regiões com mais mercado consumidor”.
Para o delegado, ainda não é possível saber por quais bairros de Salvador o oxi poderia chegar à capital. “Ainda é muito cedo para sabermos”, disse.
Efeitos
O principal atrativo da droga é o preço. Enquanto o crack sai por R$ 5, o oxi é vendido a R$ 2. O poder viciante também é maior – a concentração de cocaína é de 80% no oxi, enquanto no crack é de 40%.
As sensações provocadas pela droga começam em cerca de cinco segundos após a primeira tragada e duram aproximadamente 15 minutos. Do pulmão, a substância cai na corrente sanguínea e atinge o cérebro.
Como o efeito passa rapidamente, o usuário sente necessidade de fumar mais. Então, ele começa a ser devorado. Primeiro aparecem feridas nas gengivas, na boca e, em pouco tempo, os dentes começam a cair.
A fumaça corrosiva destrói a faringe e os pulmões. Depois, os prejuízos atingem órgãos como cérebro, fígado e rins. Há grande perda de peso, o usuário pode emagrecer dez quilos em um mês.
O CORREIO procurou médicos do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas, mas eles não quiseram dar entrevista por afirmarem não ter informações suficientes sobre o oxi. “Nós precisamos conhecer melhor esta droga”, argumentou o psiquiatra Antonio Nery.
Rota
Segundo o coordenador-geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, Oslain Santana, o caminho que o oxi faz ao entrar no país é o mesmo da cocaína. “São os mesmos traficantes. Os principais exportadores são Bolívia e Peru. A Colômbia produz mais para os Estados Unidos e Colômbia”, explicou.
A cocaína entra por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. “A droga entra como pasta base pelos rios e por voos clandestinos”, afirmou Oslain Santana. Destes pontos, a droga é distribuída a outros estados. A Bahia se juntou ao Acre, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e em todos estados do Norte.
Filhote da cocaína, irmão do crack
O oxi e o crack são drogas irmãs. Ambos nascem da cocaína. Segundo o coordenador-geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, Oslain Santana, o oxi é uma forma de se apresentar a cocaína, a diferença são os produtos acrescentados. “Imagine a farinha de trigo. Dela você pode fazer macarrão, torta de frango ou bolo de trufas, depende dos ingredientes e do gosto do consumidor”, comparou.
Segundo ele, a produção do oxi é simples e não exige equipamentos e substâncias difíceis de serem adquiridas. Por isso, ele entra no país como pasta base e é transformado nas bocas. “Da mesma forma, é possível transformar a cocaína em pó em crack e em oxi”, explicou. Os primeiros registros de oxi no país aconteceram no Acre, há 15 anos.
Fonte: Bruno Villa / Correio da Bahia