Hamilton Farias de Lima, professor universitário.
“Pois todas as nossas misérias verdadeiras são íntimas e causadas por nós mesmos. Acreditamos erradamente que elas vêm de fora, mas formamo-las dentro de nós, da nossa própria substância” Anatole France (1844-1924).
As comunidades humanas, independente das localizações geográficas em que se situam, e dos seus diferentes componentes econômicos, políticos e sociais, têm na Educação um guia que a história realça como indispensável às transformações desejáveis de desenvolvimento, uma receita oportuna para um viver melhor.
Mesmo as nações mais pobres ou aquelas submetidas às limitações de recursos naturais, vez por outra, estão a revelar que é possível alterar para melhor a vida dos seus povos, à semelhança da proeza de se “extrair água de pedra”, definindo para o desenvolvimento, prioritariamente, como metas a apreensão do conhecimento, a parceria com a ciência e, em consequência, o domínio da tecnologia.
Tal decisão tem resultado na formação de quadros humanos qualificados, passo a frente necessário ao atendimento das próprias necessidades, e também dos negócios e ofertas de serviço de ponta – que geram os recursos e dinamizam a economia-, que passam a ser, tão somente, uma questão de tempo atrelada às demandas por know – how e expertises que o mundo moderno está a exigir.
Disseminou-se na mídia as questões da tremenda crise que envolve a atualidade social brasileira, quando mais sofrem os menos protegidos economicamente e, principalmente, os desempregados que estão “a comer o pão que o diabo amassou”, para não se falar da revolta intima que sugere tempestades sem alternativas à vista. Mas, como a dinâmica social tem revelado, as nuvens são passageiras, instáveis, mas, por vezes, são indicativas de mudanças.
Num pais continental, como o Brasil, em que a riqueza de recursos naturais o faz distinguido entre tantos outros, é possível traçar saídas e expectativas de novos tempos, adequando suas potencialidades a futuros empreendimentos e destinos. É a superação esperançosa, mas realista, dos óbices presentes na atualidade nacional, como a pobreza ainda expressiva e o desemprego endêmico, frutos do desacerto de políticas governamentais que se sucedem correntemente.
Estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Universidade do Estado de São Paulo USP), relativos a 2016, apresentam o agronegócio – que vem ampliando sua participação no setor da economia -, quando, para um PIB Total de R$ 6.188 trilhões, o PIB Agronegócio foi de R$ 1.425 trilhão, o que corresponde aproximadamente a 23% do total do PIB brasileiro. Desta forma, de todas as riquezas representadas por bens e serviços produzidos em 2016, mesmo em meio às adversidades dos anos recentes, o setor primário da economia ocupa posição de destaque nacional e serve de exemplo a outras nações.
E a que servem tais reflexões? Que, ao lado da Educação, a crença e a esperança podem, mesmo nas condições de suas imaterialidades, e de um quadro social a beira do desespero, induzir novas perspectivas de superação, uma forma de reviver, de reconstruir e de fazer refazendo para mudanças futuras, mesmo com a crise batendo a porta dos brasileiros!
Ressalte-se, mesmo ainda filosoficamente, que tais idealizações já tenham sido lançadas como assertivas, há séculos e séculos, contemplando os inumeráveis desafios antepostos ao ser humano, às suas necessidades de enfrentamento e mudanças, como afirmados no soneto “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades” do imortal poeta Luiz Vaz de Camões, revisitado a seguir: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, /Muda-se o ser, muda-se a confiança:/Todo o mundo é composto de mudança, /Tomando sempre novas qualidades. /Continuamente vemos novidades, /Diferentes em tudo da esperança:/ Do mal ficam as mágoas na lembrança,/ E do bem (se algum houve) as saudades. /O tempo cobre o chão de verde manto, /Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto./E afora este mudar-se cada dia, /Outra mudança faz de mor espanto, /Que não se muda já como soía”, (Grifos do autor).
Bem o afirmava Camões, “Todo o mundo é composto de mudança, /Tomando sempre novas qualidades. /Continuamente vemos novidades…”, conduzindo ao pensamento em que a introspecção de cada individuo possa vir a se somar a de muitos outros, em face os desafios reinantes. Assim, irá constituir-se no farol e guia a contribuir para os desocultamentos desejáveis e necessários, ao utilizar as luzes da racionalidade, a apontar os caminhos lógicos a serem tracejados para novos destinos.
Nessa perspectiva, é o que se espera porque tarefa de muitos para um Brasil melhor!