As vezes o medo de experimentar a vida aparece, e nesta época de toque de recolher, lockdown, distanciamento social ele se intensifica. Os pensamentos escapam cheios de dúvidas com as notícias da mídia.
Nossos minutos na vida estão contados, todos temos o nosso tempo, mas hoje estamos sendo guiados por um caminho percorrido por esta pandemia, que é cruel. Sem dias de festa, sem vida noturna. Percorro, como um pêndulo, o caminho entre a vida e a morte. Posso contar-me entre a maioria desta terra, que segue as recomendações da saúde pública. Vejo notícias de pessoas morrendo aos milhares por dia no país. Não sou insensível. A qualquer instante, um instante como outro qualquer, tudo pode mudar para melhor ou para pior. Talvez isso seja óbvio, mas uma coisa é pensar que tenho consciência disso, e outra é presenciar esta realidade do toque de recolher de forma tão rápida.
Estamos vivendo em gaiolas das 8 da noite as 5 da manhã. É costume dizer que a esperança é a última que morre para esta pandemia acabar. Nisto está uma das crueldades da vida; a esperança sobrevive à custa de mutações, tantas mutações aconteceram, no início gripezinha, tratamentos precoce sem eficácia, vacinas que não chegam, mas vai minguando e secando devagar, se despedindo dos pedaços de si mesma, se apequenando e empobrecendo, pelas formas de tratar esta tragédia, e no fim é tão mesquinha e despojada que se reduz ao mais elementar instinto de sobrevivência.
Podemos jogar a esperança para além da barreira escura da morte, ou enfrenta calado todas estas perdas até deixar de esperar mais um instante de vida e esperar como o bem supremo o sossego da morte, este o destino de duzentas e cinquenta mil vidas no país, que depois de certas agonias pareciam dizer:” enfim veio, enfim desta vez não me enganaram”.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.
Excelente reflexão, Misael!