Teixeira de Freitas Secreta : a igreja subterrânea

Quem poderia adivinhar que no centro de Teixeira de Freitas, próximo à avenida Presidente Getúlio Vargas, uma das mais movimentadas do extremo sul baiano, existe uma antiga igreja subterrânea que por muitos anos teve por perto a primeira cruz erguida oficialmente pela igreja católica na cidade?  

Construída no ano de 1973, a igreja subterrânea, popularmente conhecida entre católicos por “Igrejinha subterrânea”, fica localizada na Rua do Rotary Club ao lado do antigo fórum, de frente da unidade municipal Materno Infantil (HUMI) e da residência paroquial da São Francisco. 

Presente em uma das áreas de maior movimento a igrejinha, que raramente é percebida por quem passa, tem uma estrutura simples acessada via porta frontal e uma escadaria de 17 degraus que leva a um pequeno salão abaixo de aproximadamente 225 metros quadrados e um antigo altar construído no estilo anos 1970, hoje sem adornos religiosos.  

Não há no lugar nenhum luxo arquitetônico, somente um vitral muito pequeno e circular no teto faz lembrar que o visitante está a alguns metros abaixo do nível do solo e  que revela sutilmente uma certa influência europeia na arquitetura.  

Uma pequenina placa de mármore na entrada de uma das salas que compõem o espaço indica que foi ali que nasceu o movimento carismático, fé conservadora, na cidade. Já o piso, a julgar pelo desgaste que apresenta, leva a concluir que nunca foi trocado desde a construção.  

De acordo com  holandês Frei Elias (em memória) em um vídeo publicado no site da diocese, aquela seria a fundação do projeto original de uma igreja franciscana não concluída completamente em 1973. Do meu ponto de vista o alto crescimento populacional obrigou a igreja planejar algo maior para um povoado que crescia com status de cidade, embora com graves problemas sociais. 

Nos anos de 1970, devido a alta exclusão social verificada nos dois últimos presidentes militares, os franciscanos e a igreja atuava fortemente para dar assistências aos pobres, fé social, tanto que a maioria das igrejas católicas aberta na cidade eram também escolas e centro comunitário, exigindo espaços maiores. 

Na época o que restou do antigo projeto da Igreja foi transformado na Igreja Subterrânea de São Francisco que tinha próxima a sua área uma cruz de Jacarandá, a mesma colocada na primeira capela construída no centro da cidade, Praça dos Leões, dedicada a Santo Antônio. 

A cruz que ficava na esquina do terreno, voltada para a avenida Getúlio Vargas tinha registrado no muro de sustentação o seguinte texto: “Sob este signo vencerás”. Esse cruzeiro marca a história de Teixeira de Freitas ela foi colocada em frente à capelinha antiga em 1954 e na igreja São Pedro em 1979 e fixada em 1984 neste templo cristão”.   

De 1981 à 1983 a “Igrejinha subterrânea” foi local de missas e o ponto de encontro da primeira formação do movimento da renovação Carismática Católica ( RCC) do extremo sul da Bahia.  

O grupo de RCC denominado Emanuel cresceu rapidamente e ganhou força exigindo mais espaço e ,por essa razão, os organizadores percebendo a necessidade transferiu os encontros para a Igreja São Pedro, como já dito, em 1984.   

Estima – se que, a “Igrejinha Subterrânea” ficou em atividade até os anos de 1988 e 1989, funcionando ocasionalmente até meados dos anos de 1990. Nos anos 2000 ficou praticamente abandonada e em alguns momentos restrita até o ano de 2011, quando foi restaurada e aberta em 2014 para receber a visita da imagem pelegrina de Nossa Senhora Aparecida. 

Atualmente no endereço funciona o grupo “23 de maio” dos Alcoólicos Anônimos (AA) cujas reuniões às quartas-feiras e aos sábados das 19 às 21 horas, são abertas ao público. O lugar está sob responsabilidade do grupo que a mais de 20 anos vem resgatando do vício milhares de pessoas da cidade.  

A igrejinha é um lugar de memória, pois nela está registrada a marca da presença franciscana na região. Sobretudo das freiras e  padres holandeses que dedicaram suas vidas a evangelização e a educação da sociedade.  

Importa ainda dizer que em uma cidade como Teixeira de Freitas onde construções do passado são modificadas e destruídas com regularidade é interessante recordar a igreja, conhecer e preservar o lugar que não conta, mas permite estabelecer conexões com a história e a memória religiosa local.  

Para que no futuro não ocorra o mesmo que aconteceu com a pioneira Cruz de Jacarandá que terminou esquecida e deteriorada pelo tempo, em uma das avenidas mais movimentadas do extremo sul baiano. 

Por Daniel Rocha da Silva/Tirabanha

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