Acertar na loteria é sorte? Não faz muito tempo, li a autobiografia de Woody Allen e Michelle Obama, em que eles atribuem o sucesso que tiveram na vida à sorte. Michelle Obama fala da sorte de ter conhecido seu marido. Woody Allen às vezes substitui a sorte pelo acaso, o apelido da sorte. Silvio Santos também agradece à sorte pelo que conquistou. – Sorte é tudo na vida – diz ele. Algumas pessoas têm muita sorte, como eu, e tudo que fazem dá certo. Outras, têm pouca sorte, e tudo que fazem dá errado. E a maioria das pessoas às vezes tem sorte, noutras vezes, não.
Júlio César era outro que acreditava na sorte. Uma vez, ele tinha de cruzar um braço de mar em um barco pequeno. No meio da travessia, alcançou-o uma forte tempestade, que erguia as ondas e ameaçava virar o barquinho. Olhando para os rostos apavorados dos remadores, César os tranquilizou: – Nada temam: vocês estão levando César e sua fortuna. A palavra “fortuna”, no caso, significa, exatamente, sorte. César acreditava que sua boa sorte o protegeria. Não protegeu – o barco acabou se despedaçando contra os recifes. Mas ele teve sorte de se salvar a nada.
Perceba a diferença: César, ao falar da sorte, falava de sua própria confiança. Ele acreditava que superaria as dificuldades, e assim as enfrentava sem medo.
Já Silvio Santos, Michelle Obama e Woody Allen usam a sorte para expressa sua modéstia. Eles diminuem a importância de seus méritos em suas conquistas. Outros poderiam ter conseguido o que eles conseguiram. Não foi a competência, o esforço ou o talento que os beneficiaram; foi a casualidade: eles estavam no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas.