Somente nascendo de novo

“Em resposta, Jesus declarou: Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. (João 3.3)

Aprendi ao longo dos anos, como parte de minha formação cristã, que nascer de novo era exclusivamente uma experiência de fé, instantânea, promovida por Deus como resultado da declaração de fé em Cristo. Somente mais recentemente fui conduzido a considerar também as palavras de Jesus sob uma outra perspectiva. E isso tem feito muita diferença e trazido mais sentido para minha fé.

Nicodemos era um mestre da Lei. Versado na leitura e interpretação da Bíblia dos judeus, o nosso Antigo Testamento. E ele procurou Jesus à noite e disse que estava entre os que o reconheciam como aquele que havia sido enviado por Deus, para ensinar as coisas de Deus. A resposta de Jesus foi desconcertante. Jesus disse que Nicodemos não poderia, de fato, saber isso sem uma mudança de suas perspectivas e de sua visão. Ele precisaria nascer de novo. Sem nascer de novo, ele jamais teria olhos para reconhecer os movimentos de Deus, para ver o Reino de Deus.

O Reino de Deus passa despercebido por nós quando nosso olhar para a vida, quando a maneira como lidamos com a existência, orienta-se pelas perspectivas e valores do reino dos homens. E não bastam também perspectivas religiosas, pois elas podem e tantas vezes são apenas perspectivas humanas. Nascer de novo não é apenas uma questão misteriosa da fé, é também um processo radical de mudança no modo de ser e viver a vida.

No reino dos homens o diapasão é o poder. No Reino de Deus, é o amor. E cada um deles mostra a vida de uma forma completamente distinta. Transitar de um para o outro não é tão simples quanto possa parecer e é uma mudança grandiosa. É nascer de novo!
Vivemos envolvidos pelo reino dos homens e estamos tão acostumados ao seu diapasão que nos tornamos vulneráveis e seguimos seu fluxo sem nos darmos conta, enquanto ouvimos, falamos, cantamos e afirmamos verdades do Evangelho.

O diapasão do reino dos homens precisa ser colocado de lado, mas o hábito não é vencido tão facilmente. Falamos no diapasão do Reino de Deus, mas usamos o diapasão do reino dos homens. É preciso nascer de novo ou não veremos o Reino de Deus, ainda que esteja diante de nossos olhos!

A fé em Cristo sempre nos chamará ao novo nascimento. É na medida em que se aprofunda o novo nascimento que mais se revela a nós o Reino de Deus. O problema de resistirmos a isso é a confusão que fazemos: achamos que algo tem a ver com o Reino de Deus, quando é apenas expressão do reino dos homens, e vice-versa!

Para perceber o Reino de Deus é preciso nascer de novo, porque ele não se encaixa em nossa lógica. Afinal, qual a lógica de o menor ser o maior, dos últimos serem os primeiros? Qual a lógica de trabalhadores que menos trabalham ganharem o mesmo que aqueles que trabalham mais? Qual a lógica de um publicano sair do templo justificado e um fariseu sair como entrou nele?
Sob parâmetros do reino humano, jamais entenderemos a misericórdia e a graça de Deus. Sem um olhar completamente novo para a vida, não reconheceremos o Reino de Deus.

Para que experimentemos na vida esse novo nascimento, precisamos crer em Deus do jeito de Deus e não do nosso. Há muita gente que crê em Deus, mas de seu próprio jeito. Porém, para a vida com Deus não é toda e qualquer fé que vale. E isso não tem a ver com doutrina apenas, mas sobretudo com o coração quebrantado.
Creia no amor, na graça e na misericórdia de Deus. Creia de um jeito que sua justiça pessoal critique, afirmando que assim é fácil demais. Você se surpreenderá com que o verá. Você verá o Reino de Deus!

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