O círculo de pessoas ligadas a mim é pequeno. Seja crítica ou reconhecimento, seja hostilidade ou camaradagem, geralmente não me atingem, tal como os votos de recuperação e longa vida de amigos em visita poderiam soar aos ouvidos de um moribundo. Mas essa solidão, esse não se enquadrar em comunidades e esse não querer ou não poder se adaptar a uma forma de existência e a uma técnica de vida coletiva, está longe de significar inferno e desespero. A minha solidão não é estreita nem vazia; ela me facilita, por exemplo, a escrita. Nela cabe uma parcela grande do mundo. Ela é cheia de imagens. Essas imagens são do tempo em que eu era ainda um filho, um irmão, e não um feixe de impulsos, reações e relações, como vejo hoje as pessoas.
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