Crianças esfarrapadas correndo entre os carros parados, colocando no retrovisor saquinhos de bala. Ficam lá faça chuva ou faça sol. As mãos sempre pedindo. De vez em quando recebem alguma moeda.
O dia passa e quando o sol se esconde voltam para seus barracos. Deve existir um desespero frio, agudo, cravado fundo em seus corações, como um punhal maligno, já que os outros meninos estão estudando em colégios como Antônio Vieira, Anchieta e tantos outros. Santo Deus, nada poderia ser mais trágico para mim, que esta comparação de momentos.
Os olhos, de uns voltados para os livros e de outros na súplica dos pedidos, são os mistérios desta vida. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto, estudando ou se está morto pedindo.
O lugar onde alguém passou os primeiros anos há de dizer à memória e ao coração uma linguagem particular e estas crianças nos faróis não tem memória e o coração aprende a crueldade da negação da sociedade.