“No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E proclamavam uns aos outros: ‘Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória’. Ao som das suas vozes os batentes das portas tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça.” (Isaías 6.1-4)
Vivemos num mundo cheio de experiências espirituais, cheio de espiritualidades, mas talvez vazio, extremamente vazio de experiências com Deus. Experiências daquele tipo que nos coloca diante da cativante e transformadora constatação de que “o Senhor está neste lugar e eu não sabia!” (Gn 28.16), conforme aconteceu com Jacó. Somos seres espirituais e por isso podemos prover para nós mesmos e desfrutar de experiências espirituais que nós mesmos ou outro ser humano nos leve a ter. A devoção, a súplica e suas sensações podem ser produzidas por nossa mente e nossas emoções. Podem ser experiências que nada tem a ver com Deus.
Talvez seja isso uma das possibilidades de compreensão para a expressão de Jesus: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mt 7.21). Porque a experiência com Deus nos conduzirá ao encontro com a vontade de Deus. Seremos levados à crise de nos submeter, de ceder, de nos converter, de voltar para Deus e nos voltar para Deus. A vida se encherá desses episódios e dependendo de como responderemos a eles, seremos transformados. Do contrário seguiremos apenas ensaiando um relacionamento com Deus, que se contentará com muito pouco, como se fosse muito. Que nos fará cheios de ideias sobre o sagrado, sobre como há querubins e fumaça, e que Deus é tão poderoso que as estruturas do templo se abalam. Choraremos e nos arrepiar com nossas próprias músicas e nossos próprios arranjos espirituais. Seremos cheios de sensações por causa de nossas próprias criações e movimentos. Mas a experiência com Deus nos convida a mais que isso, para além disso.
A experiência com Deus tem origem no próprio Deus, e não em nós. Pensamos que somos nós quem o busca, mas é Ele que está na dianteira. De repente, em certo dia, que pode ser triste como o de Isaías ou não, percebemos que Deus está por perto e isso tem a ver conosco. Que não é uma coincidência, um acaso. E somos convidados a crer. Crer que importamos para Ele, que somos amados. Que Ele está querendo algo conosco e seu querer pode ser, e de fato é, o melhor querer possível à nossa vontade. De maneira muito pessoal, podendo envolver sinais como os vistos pelo profeta ou simplesmente ser algo que nos acontece ao olharmos os lírios do campo e prestarmos atenção às aves do céu (Mt 6,26-30) Ele nos fará perceber Sua presença. E estaremos assim envolvidos e precisaremos responder. Crer ou descrer, buscar ou nos desviar, perseverar ou desistir. Há tanto em Deus para nós e nossa natureza, que tem em si a possibilidade da espiritualidade, é apropriada para encontros com Ele. Todo dia isso é possível. Pare e busque. Escute e creia. Deus está presente.