Aqui na Graça, onde moro, não tenho o silêncio à noite; existe sempre um ruído ou outro. Apesar de morar no décimo primeiro andar, há um bar em frente que tira o sossego. Também há barulho de vizinhos que mexem os móveis à noite. Na maioria dos restaurantes, é impossível conversar em um tom de voz normal. Nos cinemas, onde se deveria conversar o mínimo possível, as vozes competem com o barulho dos sacos de pipoca e dos celulares. Nem a religião escapa: quando vou a Santo Antônio de Jesus, o hotel onde fico hospedado é ao lado de uma igreja, e os cantos são altos à noite, neste mundo que se recusa a calar. Será que Deus, hoje, ouve somente quem grita? Acredito que silêncio mesmo, para valer, só em alto-mar. Acredito que as futuras gerações vão nascer sem orelhas para defender a sobrevivência da espécie.
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