O que impressiona é o número de pessoas que se têm atirado de lugares para morrer. Vejo aqui no viaduto que dá na ladeira do Campo Santo grades azuis, para evitar que pessoas se joguem de lá. Mas as pessoas também se jogam de prédios. Confesso que não simpatizo com suicidas, de um modo geral, mas tenho pena deles, pois muitos devem sofrer para quererem se espedaçar assim. Não simpatizo, sobretudo, com suicidas egoístas, como os que se atiram de lugares em risco de matar alguém embaixo. Morrer não resolve nada. É sempre preferível viver, mesmo na mais negra prisão. A solução das coisas, às vezes, está atrás da esquina, na esquina próxima da vida, que a pessoa não tem apetite para espiar.
Não, tudo convida a viver. O mundo marcha mais rápido, mas, em compensação, aumenta o número de oportunidades para lutar. Saí de vós mesmos, da vossa morbidez, e venham lutar. Deveis ir domingo ao Farol da Barra, ver o dia sobre o mar. Deveis ir ao cinema e ao teatro, namorar, amar, divertir-vos. Trabalhar, lutar, mas não esqueçam de amar.