Senhorios em Castelos de Areia

Hamilton Farias de Lima, professor universitário.

“Aprendemos a voar como pássaros, a nadar como peixes, mas não aprendemos a

sensível arte de conviver como irmãos”, Martin Luther King ( 1929-1968).

A premissa para quem pretende bem-estar, segurança, poder ou capacidade de realização, vincula-se ao plano das motivações, dos desejos de cada individuo, permeando consciente ou inconscientemente as searas do ser e do ter.

Há os que idealizam subir montanhas, cavalgar planícies, construir pontes, erigir templos ou construir cidades; outros sonham descer às profundezas dos oceanos e muitos imaginam iniciativas de ascensão social, bem como ações de operadores dos bens e serviços voltados às comunidades.

Acredite, e não são poucos, existe uma gama enorme daqueles que se satisfazem com bem menos e, até, se dizem felizes quando, de forma simples, servem muito mais e se servem muito menos !

O sábio grego Arquimedes imaginou-se capaz de proezas até então impensadas quando afirmou “Deem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”, na verdade uma figura ímpar de linguagem para realçar os resultados de suas invenções, as utilidades delas decorrentes e o prestígio de que desfrutava, ele mesmo um dos maiores matemáticos e engenheiros da antiguidade grega.

Ali se afirmava o sábio, o ser, que se reconhecia possuidor, o ter, na área científica do conhecimento que ele dominava e, portanto, julgava sua propriedade.

Não deixa de ser paradoxal que os homens, providos de inteligência e saber, em suas ânsias de autossatisfação e domínio, por vezes, não meçam consequências e não antevejam insucessos, como se registra na mitologia grega a repetirem o malfadado Ícaro no seu afã de voar, de ir além dos próprios limites e, aí, nos termos da rica linguagem popular, “vão dar com os burros n’água”!

A singularidade dos tempos atuais, dos voos desmedidos, das ações predatórias a qualquer preço, subestimando a inteligência dos brasileiros e atentando contra normas e valores – de forma surreal e jamais suspeitada, pela ousadia a ferir códigos morais – transmitem inequívocas imagens de procedimentos inaceitáveis.

Que modelo de educação e de viver desregrado geraram esta casta tão avessa a valores mínimos que, numa grita a todo instante, a sociedade condena ao exigir decência na condução dos destinos do País e por não servir de norte exemplar para a formação da juventude?

Habituaram-se à lei do menor esforço, nos pântanos das areias movediças e das águas turvas, e ali se entronizaram em castelos de areia, com práticas do “venha a nós”, ao arrepio da lei, no plano do quanto pior melhor. São rebotalhos que advogam em causa própria, enfileirados à sombra da impunidade, que se julgam protegidos da lei em seus burgos de poder, como senhorios acastelados, defendidos por instâncias e privilégios erigidos em causa própria.

As pessoas passam, castelos de areia os ventos do tempo arrastam!

Necessário é refletir sobre o que se deseja futuramente construir, em bases sólidas e moralmente aceitáveis; é vislumbrar no horizonte da historia os objetivos a serem alcançados, através das boas trilhas que a experiência humana vem indicando; é acreditar no sonho ruibarbosista de que “Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem”, e não apenas locupletarem-se dos meios que, momentaneamente, estão em seu poder e que, de forma maquiavélica, ousam manipular.

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