“Reflita agora: Qual foi o inocente que chegou a perecer? Onde foi que os íntegros sofreram destruição? Pelo que tenho observado, quem cultiva o mal e semeia maldade, isso também colherá”. (Jó 4.7-8)
Quando algo ruim nos alcança, é muito fácil que uma pergunta acabe chegando a nós: “o que eu fiz de errado?” Justamente porque, consciente ou inconscientemente, acreditamos que a vida segue regras fixas, como acreditava Elifaz, o amigo de Jó que lhe dirige a pergunta do verso de hoje. Punição ou recompensa, plantio e colheita. Mas a vida não é assim! Podemos ser cuidadosos com a saúde e ter um câncer; podemos educar nossos filhos da melhor forma que sabemos, e ainda assim eles seguirem caminhos completamente equivocados; podemos nos dedicar a um relacionamento, e ainda assim sermos abandonados. Essas coisas acontecem. “Bons” sofrem e “maus” desfrutam.
Há, sem dúvida alguma, certa relação de causa e efeito presente no mundo. “Cada um colhe o que planta” não é totalmente mentira. Mas o livro de Jó denuncia uma outra lógica: sua dor não era uma questão de merecimento ou consequência. A vida não é uma anarquia, mas também não possibilita garantias. Daí se falar em “sorte” e “azar”. Elifaz é simplista: se o mal aconteceu, quem o recebeu, mereceu; quando somos bons, tudo fica bem, estamos seguros. Pensar assim faz da vida um tabuleiro de jogo. Basta ser um bom jogador. Filhos podem ser programados para dar certo. Mas, e “se derem errado”? “Onde foi que eu errei?” ou “Por que Deus fez isso comigo?” Vivemos, ou culpa ou crise de fé. Mas podemos ser mais realistas e maduros em nossa fé.
A vida tem regras, mas não é um jogo. Há consequências, mas nem tudo é consequência. Dentre as muitas possibilidades, o drama de Jó nos faz entender que somos pequenos, frágeis, sujeitos a poderes e circunstâncias que fogem ao nosso controle. A vida é tão segura quanto as circunstâncias que nos envolvem. A menos que fiquemos com Deus em lugar de tentar controlar nossa vida com as “leis” que concebemos ou concebem para nós, poderemos amargar uma profunda decepção. Deus é livre para ser Ele mesmo e agir segundo Seu propósito Eterno. Nós não estenderemos tudo. Mas podemos lutar e confiar, ainda que tenhamos perguntas constrangedoras para Deus e lamentos para a vida. É o que Jó está fazendo.