O TikTok, popular rede social de vídeos curtos, ultrapassou a marca de um 1,5 bilhão de instalações em celulares Android e iPhone (iOS) no mundo todo em 2019.
No entanto, o aplicativo controlado pela chinesa ByteDance também se envolveu em polêmicas que envolveram violação de privacidade, influência de conteúdo, e interferência política na exibição de vídeos.
O app, que possui bastante popularidade na China e é famoso especialmente entre jovens e adolescentes, também vem enfrentando problemas com governos internacionais, que chegaram a solicitar à Apple e ao Google que removessem o programa de suas lojas.
Confira, na lista a seguir, seis polêmicas nas quais o TikTok esteve envolvido em 2019:
1. Processo por violação de privacidade
Uma ação coletiva foi movida em um tribunal da Califórnia, nos Estados Unidos, alegando que o TikTok estaria coletando dados de usuários sem que eles soubessem e enviando as informações para servidores na China.
O princípio da polêmica foi a estudante universitária Misty Hong, que afirma ter baixado o app em meados de março e abril deste ano, chegando a explorar as funcionalidades e fazer alguns rascunhos de vídeo, mas sem criar uma conta no serviço.
Vale lembrar que o TikTok permite assistir a vídeos aleatórios no feed sem criar um perfil na rede — o cadastro é solicitado apenas quando o usuário posta algum vídeo próprio.
A estudante afirma que, meses depois, descobriu que o app havia criado uma conta para ela, com o nome de usuário “user”, seguido de uma sequência de caracteres aleatórios. A senha da conta era seu número de telefone.
Segundo ela, o TikTok também havia gravado os vídeos que ela chegou a editar no modo rascunho, assim como uma grande quantidade de outros dados particulares, informações biométricas e digitalização do rosto obtida a partir de testes de reconhecimento facial em vídeo.
O processo na corte americana diz que o TikTok “secretamente aspirou e transferiu para servidores na China grandes quantidades de dados de usuários particulares e pessoalmente identificáveis”.
Além disso, a ação identificou dois servidores chineses que estariam armazenando as informações. Eles estariam ligados ao Tencent e ao Alibaba, gigantes da tecnologia do país.
O TikTok diz que armazena todos os dados de usuários dos Estados Unidos no estado da Virgínia, no próprio país, com backups em Cingapura.
2. Shadowbanning de pessoas com deficiência
O TikTok foi acusado de estar limitando o alcance de publicações que apresentam pessoas com deficiência, desfiguração facial, autismo e síndrome de Down.
De acordo com a denúncia, seus funcionários foram orientados a marcar vídeos dessas pessoas e segmentá-los como “usuários especiais”. Obesos e pessoas de identidades de gênero minoritárias também foram afetados.
Quando um vídeo que contém um desses perfis começa a ganhar repercussão na rede, atingindo entre 6 e 10 mil visualizações, os moderadores sinalizam o arquivo como “especial” — eles têm cerca de 30 segundos para julgar e decidir se o vídeo realmente deve ser marcado ou não.
Os vídeos não são excluídos da plataforma, mas deixam de aparecer na aba “Para Você”, que mostra vídeos aleatórios interessantes para o usuário. Desta forma, esses clipes não conseguem mais uma boa audiência.
O TikTok alegou que as medidas são tomadas seguindo as políticas de moderação de conteúdo do app, com o objetivo de proteger essas pessoas de bullying, por possuírem, segundo a empresa, perfis vulneráveis.
Segundo as diretrizes da empresa, o app pode limitar o alcance de vídeos publicados por pessoas “suscetíveis a assédio ou cyberbullying com base em sua condição física ou mental”.
3. Garota banida por vídeo político
Um vídeo que parecia comum mostra uma jovem ensinando seus seguidores a usar um curvador de cílios. Momentos depois, ela diz a seguinte frase “Use o telefone que você está usando no momento para pesquisar o que está acontecendo na China”.
Durante o restante do vídeo, a jovem afegã Feroza Aziz, de 17 anos, continua o vídeo fazendo críticas ao governo chinês, alegando que as autoridades estariam colocando muçulmanos inocentes em campos de concentração, separando-os de suas famílias.
O vídeo ganhou milhões de visualizações no TikTok e se espalhou por outras redes sociais, como Facebook e Instagram.
Pouco tempo depois, a jovem denunciou que não conseguia mais acessar sua conta no TikTok. Segundo ela, uma mensagem de erro dizia que o perfil estava “temporariamente suspenso”.
Aziz, então, acredita que estaria sendo reprimida pelo aplicativo, que tem base na China, e que o app estaria censurando opiniões contrárias ao Partido Comunista Chinês.
Um porta-voz do TikTok afirmou que o vídeo não havia sido removido, e que a conta da jovem havia sido suspensa por causa de um vídeo antigo publicado por ela, no qual havia uma menção ao terrorista Osama Bin Laden, sem relação com o vídeo em questão.
“O TikTok não modera o conteúdo devido a sensibilidades políticas”, disse o comunicado. Até a data da publicação desta matéria, o vídeo de Aziz está disponível no TikTok e pode ser assistido por qualquer usuário.
4. App multado por coleta de dados de crianças
No mês de fevereiro, o Musical.ly (nome do app antes de ser comprado pela Byte Dance) foi multado pela agência norte-americana de proteção ao consumidor Federal Trade Commission (FTC) em US$ 5,7 milhões (cerca de R$ 21 milhões, em conversão direta da época), por suspeita de coletar dados pessoais de crianças.
Na época, o app não solicitava nenhuma comprovação de idade durante o cadastro. O TikTok, então, lançou recursos de segurança nos Estados Unidos para tornar o ambiente seguro para crianças, oferecendo configurações de privacidade especiais para usuários mais jovens.
Em nota, o TikTok afirmou trabalhar em parceria com a FTC para criar um ambiente seguro para os usuários mais jovens:
“Cooperamos totalmente com a FTC durante a investigação do aplicativo Musical.ly nos EUA e temos o prazer de chegar a uma resolução. Preocupamo-nos profundamente com a segurança e a privacidade de nossos usuários e continuamos a explorar maneiras de expandir e evoluir nossas medidas de proteção.”
5. Governo da Índia pede remoção do app das lojas da Apple e Google
Em abril, o governo da Índia ordenou que a Apple e o Google removessem o TikTok da App Store e da Google Play Store. O motivo seria a grande disseminação de material pornográfico e incentivador de pedofilia dentro da plataforma.
A medida foi tomada a pedido de uma ação movida por um grupo de ativistas no tribunal da cidade de Chennai, no leste indiano, que pediu a proibição do uso do app no território do país.
O TikTok se defendeu dizendo que havia removido 6 milhões de vídeos que infringiam suas diretrizes na Índia, e reforçou o compromisso de garantir que a plataforma fosse um espaço seguro e positivo.
A ação também levantou a questão do excesso de exigências e censura no ambiente digital por parte do governo.
De acordo com a Reuters, o Google removeu o TikTok das lojas indianas, mas o app ainda podia ser usado em smartphones em que já estivesse instalado. Na época, a Apple não respondeu à solicitação. Atualmente, o aplicativo está liberado no país.
6. Estados Unidos investigam o TikTok por influência de conteúdo
Após as denúncias de invasão de privacidade e censura de conteúdo, o governo dos Estados Unidos pediu uma investigação sobre o TikTok e possíveis riscos à segurança nacional.
As autoridades estariam preocupadas com a possibilidade de a empresa chinesa estar censurando vídeos políticos e de estar enviando dados pessoais de norte-americanos para a China.
Entre os argumentos usados pelos senadores americanos que solicitaram as investigações está a existência de poucos vídeos dos protestos relacionados ao governo chinês.
“[Existem no TikTok] apenas alguns vídeos dos protestos de Hong Kong que dominam as manchetes internacionais há meses”, disse o senador Marco Rubio. Os congressistas também sugeriram que o TikTok poderia ser alvo de campanhas de influência estrangeira.
A investigação também analisará a transação de compra do TikTok, anteriormente chamado de Musical.ly, pela empresa chinesa ByteDance, operação realizada há dois anos e que custou US$ 1 bilhão.
Durante o acordo, a empresa não procurou o Comitê de Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos, responsável por analisar negociações com compradores estrangeiros. A falta de sinalização para o órgão abre brecha para que os EUA possam investigar a operação.
Pelo Twitter, o senador Marco Rubio, que solicitou a investigação da compra do TikTok, tuitou: “Qualquer plataforma de propriedade de uma empresa na China que coleta grandes quantidades de dados sobre os americanos é uma ameaça potencialmente séria para o nosso país”.
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, um dos maiores concorrentes do TikTok, também criticou o aplicativo por preocupações com a censura.
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Via: Daily Beast, Business Insider, The Verge, netzpolitik, CNN, BuzzFeed News, The Guardian e Reuters (1 e 2)
Fonte: TechTudo