“Mas Jesus, voltando-se, os repreendeu, dizendo: Vocês não sabem de que espécie de espírito são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los’; e foram para outro povoado.” (Lucas 9.55-56)
Os discípulos pareciam estar sentindo-me de fato um grupo coeso com Jesus. No texto organizado por Lucas o capítulo 9 começa com Jesus enviando-os para pregar, curar e expulsar demônios. Eles saíram e foram muito bem sucedidos. Voltaram felizes e fortalecidos! A coisa estava funcionando mesmo e eles eram parte de algo grande. Depois a cena é com uma multidão faminta. Os discípulos sugerem que Jesus despeça a multidão para que procurem alimento. O Mestre lhes diz que eles deveriam alimenta-la! E então multiplica pães e peixes. Quem sabe a próxima multiplicação não seria por conta deles?!
Depois há um diálogo em que os discípulos tem a oportunidade de afirmar que Jesus é o Cristo de Deus! (Estamos no verso 20 de Lucas 9) Tudo está ficando mais claro! Mais a frente Lucas relata a experiência do Monte da Transfiguração, do qual participam Pedro, Tiago e João. E no verso 46 eles já estão discutindo quem dentre eles seria o maior! Já se sentem autorizados como especiais. E então, vendo alguém expulsar demônio em nome de Jesus, proíbem, porque não se tratava de um deles. Afinal, eles detinham o monopólio! Jesus os repreende por aquela atitude.
Em seguida o grupo vai para Jerusalém e precisam passar por uma vila de samaritanos, que não aceita hospedá-los. Eles então pedem permissão a Jesus para ordenar fogo do céu e destruir a vila inteira. Creio que estavam inspirados por alguma das cenas dos profetas de Israel. Jesus então os repreende novamente: “Vocês não sabem de que espírito são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los”.
Pergunto-me se sabemos de que Reino fazemos parte, se realmente compreendemos o Evangelho que nos salvou. Pois repetimos o processo vivido pelos discípulos. Quanto mais temos certeza de conhecer a Deus, mais orgulhosos e autorizados a julgar nos sentimos. É interessante como tantas vezes nos julgamos profundamente conhecedores de Deus enquanto revelamos um enorme e assustador desconhecimento sobre a vida e o ser humano. Nem a nós mesmos nos conhecemos e pensamos ser melhores do que de fato somos! Os discípulos fizeram isso antes de nós e isso deveria nos servir de aviso.
Parece-me que é demorado esse esclarecimento na vida cristã. Demoramos muito a entender mais claramente o Reino e o Evangelho. Enquanto nos sentirmos e nos considerarmos fortes, esclarecidos, bons e melhores que os outros; enquanto for fácil para nós decidirmos entre o certo e o errado e condenar, e acreditarmos ser essa competência um sinal de firmeza na fé, de maturidade e até de santidade, o que estaremos fazendo é revelar nossa ignorância. Nossa orgulhosa ignorância. Nossa santa ignorância. E quanto mais ignorantes, mais aplaudiremos e celebraremos os ignorantes que vociferam sua ignorância.
É demorado, mas o Espírito de Deus está presente na história. Há humildade, lucidez, leveza, graça e muito amor em curso na vida de muitos. Há cristãos assumindo sua fragilidade, sua incapacidade e pecaminosidade. Há cristãos mantendo claro que Jesus veio salvar pecadores e que isso não é apenas o começo! É o máximo! Há cristãos entendendo que o sábado foi feito por causa do ser humano! Há cristãos que tem se enxergado melhor e o bastante para não mais se escandalizarem diante da fraqueza e o pecado dos outros. Há cristãos tão livres em Cristo que abandonaram a mania de controlar e julgar. É demorado, somos difíceis, mas pelo Espírito Santo há cristãos compreendendo de que Reino e Evangelho fazem parte. Quero caminhar com estes. Sim quero caminhar e aprender com eles. E aprender o mais rápido que puder. Pois os dias são maus!