A Petrobras anunciou mais um aumento na gasolina na última segunda-feira, 1º de março, e como alternativa para economizar na hora de encher o tanque, alguns motoristas têm apostado no etanol por ser mais barato e menos poluente. A famosa regra dos 70% – em que o etanol só é vantajoso se custar até 70% do litro da gasolina – costuma ser considerada na hora de avaliar qual vale mais a pena. Mas, com os avanços tecnológicos e com a eletrônica embarcada nos carros com motores flex, o consumo do etanol e da gasolina foi se aproximando e essa proporção pode ser menor ou chegar até 75%. Atualmente, esses casos variam e uma nova conta mais precisa pode ser utilizada, considerando o consumo de cada veículo com etanol e gasolina.
O instrutor de mecânica automotiva do Senai-ES Anderson Gonçalves Pardinho explica que, para saber esse percentual e descobrir qual dos dois combustíveis é mais vantajoso, basta dividir a quilometragem do consumo médio de etanol pelo da gasolina. Ele observa que esse cálculo é o mais recomendado porque, em alguns casos, o consumo médio do veículo com os dois combustíveis pode ser muito próximo.
Para ajudar nas contas, consultamos o valor médio da gasolina comum e do etanol hidratado no Espírito Santo, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O primeiro, portanto, equivale a R$ 4,986, e o segundo, por sua vez, custa R$ 3,956. Ou seja, em média, o litro do etanol está custando 79% do valor do litro da gasolina. Mas, geralmente, esse percentual é informado em avisos nas bombas de combustível.
Agora, vamos a um exemplo hipotético: se nas cidades o veículo consome 10 km/l com etanol e 13,5 km/l com gasolina, a divisão entre esses valores daria 0,74 (ou seja, 74%). Isso significa que o etanol, para ser vantajoso, tem que custar até 74% do preço da gasolina.
Considerando esses exemplos e o preço médio dos combustíveis no Estado, mesmo com o aumento dos valores, hoje está mais vantajoso abastecer com gasolina, principalmente em modelos mais econômicos.
Mas é preciso ter atenção nas contas! O valor do consumo médio pode ser consultado no manual do proprietário, na ficha técnica do veículo ou calculado pelo próprio motorista. Já o preço do litro do etanol e da gasolina varia de acordo com o posto de combustível (nos exemplos usamos o valor médio no ES).
Como calcular o consumo do carro?
Para carros equipados com computador de bordo, é fácil descobrir. Esses modelos indicam automaticamente a quantidade de quilômetros percorridos por cada litro. Mas se o veículo não conta com essa ferramenta, então é preciso pegar a calculadora.
O método é simples: encha o tanque do veículo e anote o número do hodômetro total, ou resete o equipamento. Após rodar a quantidade desejada, complete o tanque e divida a quilometragem percorrida pela quantidade de litros abastecida.
“O ideal é realizar essa medição a partir do segundo abastecimento e esperar que a bomba desarme automaticamente. Além disso, é importante que o motorista tenha as condições de alinhamento e calibragem do pneu em dia”, aconselha Anderson.
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), destaca ainda a importância de fazer uma pesquisa entre os valores dos postos de revenda. “É importante o consumidor notar que os preços variam, pois esses estabelecimentos têm a formação livre em todos os elos da cadeia, ou seja, na produção, na distribuição e na revenda”, comenta Antônio.
Diferença entre etanol e gasolina
O instrutor do curso de mecânica automotiva do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/ES) Everaldo Colodeti explica que realmente é preciso calcular antes de abastecer. De acordo com ele, o etanol tem maior poder calorífico, ou seja, libera mais energia para fazer o mesmo trabalho que a gasolina. “É por isso que, quando vemos a ficha técnica de um veículo, a potência e o torque do motor movido a etanol é sempre maior”, destaca o instrutor.
O etanol também chama atenção de quem procura sustentabilidade. O professor do departamento de Química da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Josimar Ribeiro explica que diferente da gasolina, combustível fóssil proveniente do petróleo, o etanol é um material biológico que obedece ciclos de renovação.
Entretanto, ele ressalta que para alguns estudiosos esse processo não acontece com tanta eficiência assim. “Na colheita da cana-de-açúcar tem a queima da plantação, o que gera uma questão ambiental. Há muito uso de pesticidas na produção e a mão-de-obra não é tão qualificada”, detalha.
Dessa forma, de acordo com o especialista, para quem procura sustentabilidade, uma alternativa são os carros elétricos. Apesar do custo no Brasil ainda ser alto, Josimar afirma que nos Estados Unidos e na Europa a substituição dos carros a combustão já é uma realidade próxima.
Na avaliação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), esse cenário faz parte do passado do setor sucroenergético do país. “Atualmente, 98% da colheita da cana-de-açúcar no país é feita sem queima e de forma mecanizada. Isso fez com que aumentássemos significativamente a sustentabilidade do etanol, angariando reconhecimentos internacionais. O etanol de cana brasileiro é o biocombustível que mais reduz a emissão de CO2, segundo as diretrizes governamentais dos EUA (RFS) e da União Europeia (RED). Também é reconhecido como parâmetro de sustentabilidade pela Agência Internacional de Energia (IEA)”, informou, em nota.
De acordo com a Unica, dados da ANP contabilizam que a emissão de CO2eq do cultivo da cana-de-açúcar até a queima do combustível no veículo atinge, em uma usina típica brasileira, 450 kg por metro cúbico (1000 litros), enquanto o volume de emissão equivalente para a gasolina totaliza 2,8 toneladas por m³. “Ou seja, uma redução de 83%, podendo ultrapassar essa marca em produtores mais eficientes. Com a mecanização, o perfil da mão-de-obra do setor mudou drasticamente, houve a requalificação de 400 mil trabalhadores para assumirem outras funções dentro e fora do setor”, acrescenta a entidade do setor.
Fonte: A Gazeta