Roberto Mendes resgata a chula do Recôncavo baiano

Roberto Mendes resgata a chula do Recôncavo baiano
Roberto Mendes. Foto: divulgação.
Pesquisa de mais de três décadas do cantor e compositor vira livro com DVD que será lançado no dia 24 de fevereiro, no Rio de Janeiro, e, em março, em São Paulo e Salvador

Durante três décadas de intensa pesquisa, o compositor Roberto Mendes imergiu em suas raízes, fincadas no Recôncavo baiano, para estudar e resgatar a chula, mãe do samba de roda e base dos outros sambas. O resultado é o livro com DVD intitulado Sotaque em Pauta – Chula: o canto do Recôncavo baiano, com o objetivo de reapresentar o ritmo ao mundo que será lançado no Rio de Janeiro, no próximo dia 24, às 21h, no Cordão da Bola Preta (Rua da Relação, 3, Lapa).

Roberto Mendes divulga seu novo trabalho antes da abertura da Festa dos Sonhos, do projeto Batucadas Brasileiras, que reunirá no Cordão da Bola Preta o guitarrista Pepeu Gomes, o compositor Moacyr Luz e o maestro Wagner Tizo, entre outros. O Batucadas Brasileiras é um projeto social que reúne oficinas de percussão, ritmos brasileiros, percepção musical e história das raízes da cultura brasileira e é voltado aos jovens de escolas públicas e de baixa renda do município.

Popularização da chula
Compositor cujas músicas ecoam por todo o Brasil e estão eternizadas na voz da conterrânea Maria Bethânia, Roberto Mendes presenteia o público com uma obra cuja intenção é popularizar a chula, definida por ele “como um belíssimo canto português com letras compostas organicamente em redondilhas menor e maior”, ou seja, em versos de cinco e sete sílabas.

Presente apenas no Recôncavo baiano e no norte de Portugal, a chula – canto violado do Recôncavo – foi declarada obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade em 25 de novembro de 2005. O livro possibilita o estudo dos fenômenos lingüísticos ocorrentes na letra das músicas e, o DVD, mostra o modo peculiar como a chula é tocada.

Em São Paulo o lançamento será no dia 26 de março, no Museu Afro Brasileiro, no Parque do Ibirapuera. Em Salvador, Roberto Mendes recebe os amigos para mostrar o seu projeto no dia 31 de março, no B-23 Lounge Music Bar (Rua Anísio Teixeira, Boulevard 161, Itaigara), a partir das 20h.

Sobre o livro
Fortemente influenciado por Guimarães Rosa e Mário de Andrade, o livro nasce do encontro entre Roberto Mendes – natural de Santo Amaro da Purificação, cidade do Recôncavo baiano banhada pelo Rio Subaé – e Nizaldo Costa – natural de Xique-Xique, cidade às margens do Rio São Francisco. Juntando os sotaques, as lembranças e as histórias contadas à beira das águas “doces como a cana” dos dois rios, eles compuseram músicas e escreveram o texto povoado de personagens reais e fictícios.

A obra, ricamente ilustrada por fotografias de Marcelo Bruzzi, traz um estudo sobre versificação e análise dos fenômenos verificados na letra das canções compostas por Roberto Mendes, tais como crase poética, anadiplose (repetição da última palavra ou expressão de uma oração) entre outros. Traz, ainda, as letras e as partituras elaboradas por Marcos Bezerra.

Bilíngue (português e inglês), o livro vem acompanhado de um DVD no qual Roberto Mendes apresenta um verdadeiro show de chula com violão e voz e, ainda, ensina a técnica do ritmo por meio de imagens concentradas em suas mãos. O material também traz entrevistas de antropólogos, músicos e poetas, além de imagens dos locais e das pessoas que serviram de fonte para a pesquisa.

Sobre a chula
Os mais antigos registros sobre uma música típica do Recôncavo Baiano remontam ao século XVIII e são depoimentos de viajantes que descreveram uma manifestação musical na qual homens negros tocavam instrumentos de percussão e cantavam, num ritmo que remontava às raízes africanas.

A chula é sempre ritualística. Homens e mulheres têm os seus papéis definidos. Na roda que se abre para as apresentações, somente homens em pé tocam e um deles puxa o canto que soa como uma declamação. As mulheres só entram na roda quando o “comandante” da chula concede a permissão. Assim, começa a roda de dança, na qual apenas as mulheres podem entrar, uma de cada vez, reverenciando os tocadores até que tudo se transforme em uma grande festa.

A parte litúrgica tem os homens como protagonistas exclusivos, que cantam nos desafios das duas parelhas (formada cada uma por duas pessoas), na qual uma canta e a outra responde. Às mulheres cabe apenas observar e se deixar levar pelo canto e pela harmonia envolvente da viola.

Sobre Roberto Mendes
Natural de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo baiano, Roberto Mendes nasceu em 22 de novembro de 1952. Com mais de 30 anos de carreira, tem suas composições gravadas pelos conterrâneos Maria Bethânia e Caetano Veloso, por Gilberto Gil, Gal Costa e tantos outros. É, inclusive, quem mais compôs para Maria Bethânia depois de Caetano e Gil.

Entre os sucessos gravados por Bethânia estão: A Beira e o Mar, Esse sonho vai dar, Resto de mim, Vila do adeus, Iluminada, Saudade dela, O nunca mais, Massemba, Filosofia pura, Lua, Beira-Mar, Memória das águas, Francisco, Francisco, Yorubahia, Sino da minha aldeia, Quadrinhas, Ofá, Noite de Estrelas, Vida vã, Louvação a Oxum, Búzio e O nunca mais.

Fonte: Vera Longuini/Ateliê da Notícia

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