“O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo.” (Jeremias 17.9)
Este verso é famoso e muito citado. Ele faz uma afirmação nada boa sobre nosso coração. Aquele, que costumamos prometer a quem amamos! Aquele, que usamos como referência de segurança sobre nossas falas – “vou lhe dizer uma coisa, do fundo do meu coração!” ou “Com todo meu coração: você é muito especial para mim!” – entre outras coisas. Quando falamos dessa forma, estamos mentindo e pretendendo enganar que nos ouve? Não, de forma alguma. Talvez alguns o façam, mas não todos. A maioria de nós está apenas dominado pelo momento e esquecidos de nossas próprias fragilidades e susceptibilidades. Eu não quero com isso menosprezar as promessas ou a sinceridade humana. Elas são sérias, importantes e necessárias. São a base para as relações mais importantes da sociedade humana: a conjugal e a fraterna, entre amigos. As relações que nos são mais caras na vida constroem-se sobre as inclinações do nosso coração, embora precisem de mais que isso para serem mantidas!
O texto de Jeremias está nos lembrando o que não devemos esquecer sobre nosso coração: que há um potencial de maldade residente nele. Um potencial que se manifesta sem que possamos evitar. Ele nos leva a mentir, a omitir, a ver apenas o mal, a difamar, a julgar, a irar-se, a sentir inveja, a ser preconceituosos, a semear contenda, divisão, a manipular… a lista é grande e inclui a todos nós. Entre nós não há anjos! Lendo outro dia sobre esse verso o escritor dizia que devemos controlar esse coração mal e difícil de conhecer. Ele dizia também que Deus o conhece bem e podemos pedir a Deus que nos revele suas artimanhas. Nosso coração é enganoso e será terrível nos enganar por ele. O salmista pediu que Deus o ajudasse a lidar consigo mesmo, com suas maldades ocultas. Pediu que Deus o sondasse, o testasse, expondo a verdade sobre seu coração e que o guiasse pelo caminho correto (Sl 139.23-24). As vezes pensamos que o grande desafio é lidar com o outro. Mas talvez seja lidar conosco mesmos!
Em meio a essas reflexões ocorreu-me que Deus, que nos conhece, já nos deu a direção para lidar com esse nosso coração, para que, apesar dele, possamos andar no caminho certo: A direção é amá-lo sobre tudo e ao próximo como a nós mesmos! No amor a Deus seremos guiados a colocar todas as demais coisas no lugar adequado: os bens, o dinheiro e o poder. No amor ao próximo seremos guiados a não vitimá-lo, a respeitá-lo, a trata-lo como gostaríamos de ser tratados. O remédio para nosso coração é aprendermos a amar, inspirados pelo amor de Deus. E isso inclui a nós mesmos! Como dizia C.S. Lewis, devemos lembrar que estamos proibidos de odiar o próximo como odiamos a nós mesmos! Interessante sua perspectiva e temo que haja pessoas que fazem isso! É no amor, na escolha de tratar o outro como quem ama, de respeitar, de compreender, de acolher e ouvir que nosso coração enganoso e incurável deixa de ser um perigo. Que o meu e o seu estejam neste processo. Afinal, é este o verdadeiro culto que um cristão presta a Deus! Seu coração é perigoso, mas há remédio para ele!