A memória se desbota, a memória se ajusta, a memória se conforma com o que acreditamos recordar. O tempo, de repente, retrocedeu a grande velocidade. O tempo é um filme que mostra a minha vida de trás para a frente.
Nos meus olhos se acende de vez em quando uma faísca de felicidade, quando lembro do dia vinte de setembro que completo trinta e nove anos de relacionamento. Observo a construção estranha, cheguei a trinta e nove anos de companherismo – você escuta o eco?
Ainda ontem eu namorava.
Ainda ontem nos nos casamos.
Ainda ontem Lucas nasceu.
Ainda ontem João nasceu.
Ontem eu datilografava.
Ontem eu fazia faculdade.
Ontem meu pai faleceu.
O tempo passou e o silêncio recaiu sobre mim, como a escuridão da noite e a chuva caí nos túmulos, de tantas pessoas queridas que perdi.