‘Quem dá ereção a ele é o seu cheiro’, afirma Elsimar Coutinho

'Quem dá ereção a ele é o seu cheiro', afirma Elsimar Coutinho
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Questionado se, aos 89 anos, ainda mantém uma vida sexualmente ativa, o médico e pesquisador baiano Elsimar Coutinho não pensa duas vezes. “Claro. É que ainda sou novo, só tenho 90 anos”, ri o cientista pioneiro no desenvolvimento de anticoncepcionais femininos e na fabricação de implantes hormonais, que completa 90 anos em maio.

Quase 30 anos mais velho que a esposa, Dr. Elsimar explica com tranquilidade: “Minha mulher usa meus implantes de estradiol”. Então completa: “Quem dá ereção ao macho de qualquer espécie animal de mamífero é o que emana da fêmea. Quem dá ereção a ele é o seu cheiro”.

Com mais de 50 anos dedicados ao estudo da reprodução humana e do planejamento familiar, o médico recebeu o CORREIO em sua clínica na Rua Chile para uma conversa sobre sexo depois dos 60 anos, morte, aborto e menstruação – “uma sangria inútil”. “A menstruação é um fenômeno antinatural. Não estou exagerando, não. Acho que a menstruação é uma burrice. Burrice!”. Confira.

O senhor está prestes a completar 90 anos. Sente a idade que tem?
Antes da nossa entrevista, o senhor precisou mudar sua movimentada agenda algumas vezes. Como aguenta a rotina de trabalho?

Não sei se eu estou aguentando, não (risos). Eu trabalho assim porque gosto do que faço. Como um pintor. Ninguém pergunta a ele: “Por que o senhor está pintando até essa idade?”. É porque ele gosta de pintar. E eu pinto gente, eu cuido de gente, cuido da saúde. E quem está cuidando da saúde, cuida da beleza física, da estrutura nervosa. Escolhendo bem a sua profissão, você se mantém e mantém todos aqueles que dependem de você.

Nunca tinha chegado assim na beira dos 90, então não tenho experiência nenhuma (risos). Os nonagenários que conheço estão todos parados, não exercitam nenhum trabalho. Eu não sinto a idade que tenho. Não posso nem saber como é que eu deveria me sentir se tivesse um envelhecimento normal, porque todos os parentes da minha geração já morreram. Então fica difícil fazer comparações.

No duro, no duro, uma coisa que tenho é sorte. Sorte de não ter sofrido um acidente em um desses aviões que caem de vez em quando. Viajo de avião toda semana. Tenho consultório em São Paulo há mais de 20 anos, tenho no Rio, em Belo Horizonte, em Brasília… Vou a São Paulo toda semana, mas no passado ia para fora do Brasil.

São mais de 50 anos de trabalho dedicados à saúde, à reprodução, à concepção da vida. Sobra tempo para pensar na morte?
A esta altura dos acontecimentos, nem vale a pena pensar. Pra quê que eu vou pensar nela? Não estou ansioso para encontrá-la (risos). E acho que é mais fácil eu morrer de acidente do que de velhice, porque do jeito que me exponho…

A esta altura dos acontecimentos, nem vale a pena pensar [na morte]. Pra quê que eu vou pensar nela? Não estou ansioso para encontrá-la (risos). E acho que é mais fácil eu morrer de acidente do que de velhice

A que se deve essa saúde?
Olha, filha, certamente que minha saúde se deve principalmente à saúde do meu pai. Ele morreu idoso, com quase 90 anos, mas porque parou de trabalhar. Ele era professor universitário, que é aposentado compulsoriamente quando chega a certa idade. O camarada consegue ir até os 70. Então, para chegar aos 90, são 20 anos aposentado compulsoriamente. Ficar aposentado antes da hora mexe com a mente.

O senhor foi pioneiro no desenvolvimento de anticoncepcionais femininos e enfrentou fabricantes católicos contra o método. O que acha do sexo só para reprodução, ideia defendida por algumas religiões? E da abstinência sexual, tão citada ultimamente?
Eu nunca dei muita pelota para isso, não. Acho que é uma coisa tão insignificante para influenciar qualquer pessoa que tenha uma cultura média e um bom senso. Isso é contra o bom senso. Querer interferir na vida reprodutiva e sexual do outro é totalmente reprovável, do ponto de vista médico, inclusive. Cada um deve faz o que acha que deve fazer.

Querer interferir na vida reprodutiva e sexual do outro é totalmente reprovável, do ponto de vista médico, inclusive. Cada um deve fazer o que acha que deve fazer

Qual é sua opinião sobre o aborto desejado?
A mulher deseja abortar em algumas circunstancias. A primeira é quando já teve filho demais e não quer ter mais, porque não aguenta. Então é uma opinião dela. É difícil que um aborto seja desejado por uma mulher que está grávida pela primeira vez, mas existe também: ela quer abortar porque engravidou contra a vontade, ou porque foi assaltada, porque foi oprimida.

Em seu consultório, chega algum caso assim?
Claro que chega. No mínimo a paciente vem perguntar “o que eu faço, porque não quero ter esse filho”. Você tem que dizer: procure fulano, porque ele faz um aborto para você, sem você tomar remédio. Ou então “tome tal remédio”. Não tem cidade do Brasil que não tenha quem faça aborto, tranquilamente. Basta pagar que o médico faz o aborto. Não tem escrúpulo, não. O escrúpulo aí é geralmente de origem religiosa: você tem uma religião que lhe proíbe de fazer aborto.

Não tem cidade do Brasil que não tenha quem faça aborto, tranquilamente. Basta pagar que o médico faz o aborto

O que acha da interferência da religião na ciência?
É complicado…

O senhor já disse, em entrevistas, que a gravidez não é algo saudável. Por quê?
A palavra não é ‘saudável’. A gravidez é uma sobrecarga de solicitações. Você vai ter um menino com 3, 4 kg de peso e isso tudo veio do seu corpo. Você é sugada durante a gravidez. Mas é uma coisa grandiosa, maravilhosa, ter um filho saindo de você. E isso pode se repetir. Minha mãe teve 9 filhos. Naquele tempo não tinha anticoncepcional… (risos)

O que muda na libido das mulheres e dos homens depois dos 60 anos?
“Depois dos 60” você foi longe, viu, porque a data correta é aos 50, quando a mulher entra na menopausa e deixa de ter hormônio circulando no corpo. A não ser que ela faça reposição hormonal, algo que defendo há mais de 50 anos para ela continuar atraente, porque quem dá ereção ao parceiro é o que emana do corpo dela. Testosterona é para sustentar a ereção, mas para provocar a ereção é o hormônio feminino estradiol. Quanto mais estradiol a vizinha dele tem, mais ele tem ereção fácil. Vou te contar uma história que diz respeito a todas as mulheres.

Qual história?
Quando você vai para o trabalho de manhã, você toma banho, se lava, usa muito desodorante e depois bota um perfume exótico e tira completamente o seu cheiro de fêmea. E vai para o trabalho. Chega lá, trabalha o dia inteiro e volta para casa tendo recuperado todos os odores que você tinha quando acordou. Aí o cara que está em pé de junto de você sente seu cheiro e tem uma ereção. Quem dá ereção a ele é o seu cheiro. É o cheiro provocado pelo hormônio feminino, o estradiol.

E o que dizer do sexo depois dos 60?
Minhas clientes têm sexo depois dos 60 porque coloco implante de estradiol nelas. Toda paciente minha com mais de 50 usa o estradiol que tinha quando tinha 30 anos. Continua atraente. Quem dá ereção ao parceiro é o que emana da fêmea suada, longe do banho.

Funciona com você? Tem uma vida sexualmente ativa?
Claro que funciona, vida sexualmente ativa. É que ainda sou novo, só tenho 90 anos (risos). Minha mulher usa meus implantes de estradiol. Se ela não usar, não funciona. Quem dá ereção ao macho de qualquer espécie animal de mamífero, é o que emana da fêmea.

Quem dá ereção ao parceiro é o que emana da fêmea suada, longe do banho

O senhor sempre disse que a menstruação “é uma sangria inútil” e defende o uso anticoncepcionais sem interrupção…
Não recuso a colocação de que a menstruação tem usos, mas isso não significa que ela seja obrigatória. Ela tem prejuízos, também: a mulher menstrua e, por isso, é uma anêmica. Comparada com o parceiro dela, ou o irmão da mesma idade, ela é anêmica a vida inteira e ainda reclamam que está preguiçosa, ficando para trás. Pudera! Eles não menstruam. E você tem uma sangria que dura dias. Isso sempre me incomodou muito. [Pausa] Isso não dá para uma entrevista, não (risos). Já escrevi livros sobre isso!

Verdade (risos)…
Tenho a convicção de que fiz um benefício para a humanidade que só vai ser reconhecido daqui a alguns séculos. O reconhecimento da inutilidade da menstruação só ocorreu depois desse livro [Menstruação: A Sangria Inútil], que já está na 10ª edição. No livro eu explico que a menstruação é um fenômeno antinatural.

Não estou exagerando, não. Eu acho que a menstruação é uma burrice. Burrice! Porque você, para impedir a mulher de engravidar, obriga ela a sangrar. Está pagando um preço alto para não engravidar. Então, depois que a gente inventa anticoncepcionais – eu querendo vender meu peixe –, pra quê você quer sangrar se já não precisa se preocupar com a gravidez? Fazer um aborto por mês a vida inteira, tem justificativa?

Não estou exagerando, não. Acho que a menstruação é uma burrice. Burrice! Porque você, para impedir a mulher de engravidar, obriga ela a sangrar

Você se orgulha quando olha para tudo o que construiu?
Olhe, filha, não me orgulho. Eu acho que fui – tenho sido até hoje – um cara de sorte, porque não morri de nenhuma das viagens que fiz. Acho que o orgulho é uma espécie de anomalia, é um negócio exagerado. A gente se orgulha de quê? Eu não me fiz, quem me fez foi meu pai. Só se eu fosse ele para me orgulhar. Tenho consciência de que fiz mais pelos brasileiros do que qualquer outro brasileiro fez no mundo da ciência. Ninguém fez o que fiz, não trabalhou o tempo que trabalhei, os cientistas que conheci se aposentaram cedo. Gosto do que faço.

Quem é

Elsimar Coutinho
Líder no desenvolvimento de anticoncepcionais femininos, o médico e pesquisador estuda, há mais de 50 anos, a reprodução humana e o planejamento familiar. Presidente do Centro de Pesquisas e Assistência em Reprodução Humana (Ceparh), inovou a fabricação de implantes hormonais. Nascido em Pojuca, é formado em Farmácia e em Medicina pela Ufba, com pós-graduação em endocrinologia na Universidade de Sorbonne (França) e no Instituto Rockfeller (EUA).

Fonte: Correio

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