“Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável.” (Salmos 51.10)
Hoje vou de música nordestina, neste domingo de nossa semana. Domingo das igrejas, dos pastores, dos crentes, dos padres e dos católicos. Domingo, o dia em que a Bíblia, ainda que não seja mais lida, é mais citada. Hoje chamo a minha e a sua atenção para o coração, para o lado de dentro, pois é para lá que se dirige a súplica do salmista, ainda que proferida para Deus. E faremos bem em acompanhar sua orarão. Hoje é domingo, um bom dia para mudarmos um pouco mais por dentro.
O que buscaremos em nossas reuniões? O que levaremos para elas? O que esperamos receber? O que nelas nos aborrecerá? Falaremos bem ou mal do sermão? Gostaremos ou criticaremos as canções escolhidas? Estarão do nosso agrado? E o nosso coração? Como está e como ficará depois de mais um culto?
Será que faz sentido acumularmos tantas liturgias, tantos sermões, tantos domingos e continuarmos os mesmos? É possível tornar-se imune e pouco reagir aos encontros com as Escrituras, nestes momentos em que Jesus se faz presente por nos reunirmos em seu nome. É possível parar no templo e no tempo. Não mudar o modo de ver e sentir a vida ou tratar o outro, como se já tivéssemos chegado ao final, nada tendo a rever. A oração de Davi me disse essas coisas. Não somente ela, mas também a poesia de Braulio Bessa, poeta nordestino, daí a razão da canção da de hoje. Quero lê-la para você.
Não deixe sua visão encoberta por um pano/ Quem repara só por fora vive a vida num engano / porque o melhor do osso, eu garanto, é o tutano. / Pra se conhecer um livro é preciso abrir e ler / escutar o que ele diz, abrir os olhos pra ver / que olhando só pra capa ninguém consegue entender / Não é produto de marca que define o cidadão / Nunca julgue nessa vida um homem de pés no chão / pois sapato calça os pés mas não calça o coração. / Nunca vi camisa cara abraçar sozinha ninguém / Quem abraça é quem tá dentro, quem tá dentro faz o bem / abraçando com a alma que tá lá dentro também. / Quem é belo só por fora por dentro não tem valor / Já vi bonito odiando e feio espalhando amor / Já vi passarinho preso cantando e sentindo dor. / Tem gente com roupa suja que ajuda a limpar o mundo / Tem gente de terno limpo que por dentro é um imundo / Só se conhece o rio se o mergulho for profundo / Ninguém no mundo é igual, é grande a variedade / O corpo é só aparência, a alma é identidade / Beleza não tem padrão, bonito é ser de verdade.
Que neste domingo em que a igreja se reúne, que os pastores pregam, que poetas nos falem em nome de Deus. Que as palavras de Davi o poeta pastor e rei, e as palavras de Braulio Bessa, profeta da poesia nordestina, nos orientem e olhemos mais para dentro e para cima. Afinal, para que cultuemos a Deus é preciso mais que aparências. É preciso alma e coração. E na liturgia do Espírito Santo, nem sempre quem canta adora, mas, sem dúvida alguma, não há confissão que não termine em adoração.