“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi em vão; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo.” (1 Coríntios 15.10)
Uma questão interessante: a graça pode vir a ser vã? Pode ser inoperante em nós? Costumamos pensar que tudo depende de Deus, que tudo é feito por Deus. Este é o sentido que muitos dão à expressão “Deus está no controle”. Temos bastante dificuldade para compreender a relação que se estabelece na vida entre a soberania de divina e a vontade humana.
Não tenho a pretensão de explicar isso aqui, mas de propor uma perspectiva: em sua soberania, Deus cede espaço à nossa autonomia. Somos coautores da história e responsáveis dentro dela. E, sim, a vida não se determina unicamente pela vontade de Deus. A vontade humana também determina aspectos da vida, tanto pessoal quanto coletivamente. “Deus está no controle” não significa que tudo é responsabilidade ou vontade dele.
A partir dessa perspectiva, então, diria que, sim, a graça pode revelar-se sem efeito na vida de alguém. Pode ser inoperante. Paulo, escrevendo aos cristãos de Corinto, disse: “Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais” (1 Co 3.1-3).
A graça os havia alcançado. Ela produz maturidade, mas não era o caso deles. O escritor aos Hebreus disse algo semelhante: “De fato, embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido!” (Hb 5.12). A responsabilidade disso não era a ineficiência da graça ou a vontade de Deus.
Quando a graça nos alcança, mas resistimos, não cremos, não fazemos as escolhas necessárias; quando revelamos um coração duro, nos fechamos para compreender, acolher, amar e perdoar, podemos dizer que ela está sendo vã em nossa vida. Quando a graça nos alcança, mas continuamos egoístas, apenas ocupados de nós mesmos, indispostos para servir e comprometer-nos, podemos dizer que a graça está sendo vã em nossa vida.
A graça opera em nós na medida em que operamos movidos por ela. Enquanto ela atua através de nós, ela atua em nós e vice-versa. Não há maturidade espiritual sem compromisso e serviço espiritual. Nossa fé é a fé do caminho. É no caminho da graça que nos revelamos pessoas de fé. Que a graça não seja vã em nossa vida. Jamais!