Próximo Livro

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Em janeiro lançarei meu segundo livro “Tormento”. Acredito que as palavras de um livro são, como se diz em pintura, valores: para produzir. Pois, um certo efeito de força ou de graça num livro, o caso não está em ter muitos valores, mas em saber agrupar bem os três ou quatro que são necessários. A beleza de uma pintura, no que respeita ao colorido, acaso está na abundância das cores? Não. Decerto, e se assim fosse as obras-primas da pintura seriam estampas simples com várias nuanças. Todavia, os grandes mestres Velazquez, Rembrandt e outros pintam com três ou quatro cores. Os grandes pensamentos escrevem com meia dúzia de palavras.

Flaubert catava dos livros todos os termos que não pudessem ser usados na conversa pelo seu criado: daí vem ele ter produzido uma prosa imortal. E a razão é que só os termos simples usuais, banais, correspondendo às coisas, ao sentimento, à modalidade simples, não envelhecem. O ser humano, mentalmente, pensa em resumo e com simplicidade nos termos mais banais e usuais. Termos complicados são já um esforço de literatura, e quanto menos literatura se puser numa obra de arte, mais ela durará, por isso mesmo que a linguagem literária envelhece e só a humana perdura.

Seria por isso impossível tornar bem compreensível a análise de um sentimento, se você, em lugar de notar todas as modalidades desse sentimento em termos claros e simples, através dos quais elas vivessem, as afogasse, usando os sinônimos complicados desses termos simples. Um livro que não possa ser lido sem um dicionário é uma obra grotesca. Meu livro é simples e direto, com questões novas surgidas após esta pandemia que ceifou tantas vidas.

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