Professores na BA dizem que livros didáticos têm teor preconceituoso

Os professores do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) paralisaram as atividades por 48h desde a quarta-feira, 20, em Salvador. Entre as reivindicações estão questões como estrutura precária de diversas escolas, falta de professor e as críticas com relação ao programa educacional Alfa e Beto.

O sindicato diz que a secretaria adquiriu material didático do Instituto Alfa e Beto que contém possíveis conteúdos racistas. A secretaria nega e diz que os textos precisam ser contextualizados e que o debate crítico deve ser estimulado em sala de aula. O G1 solicitou o trecho polêmico e ainda não recebeu.

O sindicato cita exemplos de um texto sobre o Saci-Pererê e um texto que propõe a discutir a beleza. A diretora educacional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Bahia (APLB), Jacilene Nascimento, responsável pelo acompanhamento das questões pedagógicas e étnico-raciais de todos os materiais distribuídos na Rede Pública de Ensino, questiona ainda que os textos religiosos inseridos no material sempre fazem referência à Bíblia cristã. “A Constituição diz que a escola tem que ser laica, mas o projeto só apresenta texto bíblico. Além do mais, tem um texto intitulado ‘As bonecas de Fernanda’, que é extremamente preconceituoso. O texto mostra duas bonecas e diz que a mais bonita tem olhos azuis, pele branca e cabelos loiros. O texto sobre o saci diz que ele é o diabo de uma perna só”, afirma Jacilene.

O secretário de Educação do município, João Carlos Bacelar, disse que a paralisação é precipitada. “Se o problema são quatro ou cinco textos dentro de um universo de mais de 60 mil páginas, a secretaria está disponível a dialogar com os professores. Podemos pensar na possibilidade de retirá-los do livro. O que nós não queremos é que isso se torne motivo de paralisação. Os professores querem dizer que o personagem do Saci-Pererê é racista. É preciso é que os professores sejam críticos e analisem esses textos junto com os alunos explicando o contexto social e histórico em que ele foi escrito”, conclui.

O secretário lembra a polêmica que aconteceu em outros estados com a obra de Monteiro Lobato. “A obra de Monteiro Lobato já foi bastante criticada e nem por isso ela não deve ser aplicada. É preciso criticar essas obras”, explica.

O presidente do Instituto Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, diz que esse livro é utilizado em diversos municípios brasileiros, e que nunca tiveram esse tipo de sensibilização. “Essa questão deve ser discutida. Hoje em dia, as pessoas não querem ler Monteiro Lobato ou Jorge Amado. O papel da escola é formar uma consciência crítica”, afirma.

De acordo com dados do instituto, o IAB já contribuiu para alfabetizar mais de um milhão de crianças em todo o Brasil em mais de 700 municicípios brasileiros.

Especialista

A professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (FACEB-UFBA), Celi Taffarel, afirma que no caso dos textos criticados pelo sindicato é fundamental que os professores os contextualizem historicamente e ajudem os estudantes a analisar criticamente o material.

“Todo e qualquer material precisa ser contextualizado. Ele precisa ser compreendido e explicado historicamente. A contextualização dos materiais didáticos é um procedimento muito importante. O professor deve incentivar as crianças a terem uma perspectiva crítica do material que está sendo utilizado. Elas devem ter uma atitude científica perante esses textos para compreender os contextos e ter uma opinião”, explica Celi.

Para a professora, a saída não é evitar que os estudantes tenham contato com esse tipo de material. Ela acrescenta que os educadores devem participar da escolha do material didático. “Mais dias ou menos dias, as crianças terão contato com esses textos. Não adianta ocultar. Mais cedo ou mais tarde, as crianças terão contato com eles. Portanto, é melhor que eles desenvolvam uma atitude crítica”, avalia.

 

G1-BA

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