Depois do desastre ambiental que envolveu a chegada de uma grande quantidade de óleo a praias do Nordeste, alguns questionamentos se tornaram recorrentes a toda população: “É possível conter o óleo antes de sua chegada à areia?”, “Qual é o melhor método de barragem?” e “Os animais podem ser prejudicados com as barreiras?” são apenas uma parte dos questionamentos que se têm ouvido. Tentando responder a essas perguntas, o professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Anders Schmidt, testou a utilização de barreiras de contenção, no município de Caravelas, no extremo Sul da Bahia. Para pontuar a suas conclusões, ele confeccionou uma nota técnica sobre primeiros resultados desse teste. A nota visa relatar a experiência para orientar atores de outras localidades na utilização de métodos semelhantes para atenuar os impactos ambientais decorrentes do derramamento de óleo.
Como foi o experimento
O experimento utilizou 250 m de barreiras flutuantes de contenção de óleo do tipo “cerca” . A barreira tem 84 cm de altura, sendo que 42cm submersos e 42 cm emersos. Ela não contém qualquer tipo de rede que possa prender animais marinhos e é feita de uma lona sintética resistente estruturada por barras de aço verticais. Ao longo de toda a sua margem inferior, fica uma corrente de lastro e na parte superior existem flutuadores não infláveis . A barreira não é contínua, mas sim formada por módulos conectados por mosquetões e velcro, que dá versatilidade para dividi-la em barreiras de vários tamanhos.
Os testes se iniciaram no dia 1º de novembro, na Ilha do Pontal, e teve parte de sua estrutura remanejada para o extremo sul da praia da Barra de Caravelas, adjacente ao riacho do Aracaré, última praia antes do começo dos manguezais, com profundidade inferior a 1 m durante a preamar e com a zona inferior com predomínio de substrato lamoso.
A barreira foi instalada com 75º de inclinação em relação à praia, de modo que, na maré enchente, as manchas e partículas de óleo eram carreadas para a área de sacrifício onde se acumulavam, facilitando a coleta e impedindo a entrada pela barra e o consequente impacto nos manguezais adjacentes.
Durante os testes, foi constatado que a manobra de instalação da barreira deve ser realizada no estofo da preamar para diminuir a resistência no momento da puxada, e para que seja evitada a formação de seio na barreira, o que dificulta muito a manobra pela embarcação e puxada.
Para a instalação, um dos punhos da barreira foi amarrado em uma poita de 3 toneladas instalada no canal pelo rebocador da HM (empresa que presta serviços para a Suzano). Uma embarcação de alumínio com motor de 15hp conduziu o outro punho da barreira até onde a profundidade permitiu e, a partir deste ponto, a barreira foi puxada por um grupo de cerca de 20 voluntários até a linha de preamar, quando então ela foi amarada em duas árvores na restinga adjacente.
De acordo com o professor, durante a maré enchente, pode-se constatar a eficiência da barreira, observando que inúmeros fragmentos de óleo que chegavam flutuando vindos de nordeste, encontravam a barreira e eram carreados para a praia, podendo ser facilmente coletados com luvas na areia ou com peneiras e redes dentro d’água.
“A quantidade de fragmentos diminuía substancialmente da praia em direção ao canal, e eram raros no canal principal após a barreira, indicando a adequação da localização da mesma. No lado protegido da barreira, foi observado apenas 1 fragmento. Fragmentos submersos foram procurados no lado protegido com o auxílio de uma peneira e nada foi encontrado, o que comprova que não havia óleo passando por baixo da barreira”, afirmou Anders em seu relatório.
No estofo da preamar, os fragmentos de óleo deixavam de ser carreados em direção à praia, parando ao longo de toda extensão do lado exposto da barreira. Com o início da vazante, alguns fragmentos que passaram pela barreira retornavam parando no lado protegido da barreira. Assim, nesta situação, com o auxílio de uma pequena embarcação e uma rede de mão, foi possível coletar fragmentos de óleo ao longo dos dois lados da barreira.
Embora as ações da natureza, como aumento da força dos ventos e correnteza, levassem à criação de novos métodos de trabalho, as adaptações foram realizadas de maneira rápida e eficiente, demonstrando, ao longo dos dias, a eficácia da barreira de contenção.
As barreiras realmente são eficazes?
Ao final do teste, o grupo de trabalho concluiu que, escolhendo local adequado, com angulação correta, com a utilização de cabos corretos, realização de manutenção diária e observando a força dos ventos, as barreiras de contenção flutuantes do tipo cerca podem ser eficazes para evitar que fragmentos de óleo cheguem a ecossistemas sensíveis, conduzindo-os para áreas de sacrifício onde podem ser facilmente coletados.
Embora nem sempre seja possível encontrar uma praia arenosa com poucas ondas, como a utilizada neste teste, o desempenho da barreira indica a viabilidade de instalação em locais mais abrigados de ecossistemas sensíveis, como manguezais e recifes. No entanto, nesses casos em que não existem praias de sacrifício, é necessária a coleta contínua do óleo carreado para a margem.
Estes testes só foram possíveis graças ao apoio da Suzano Papel e Celulose, da HM Engenharia Costeira e Portuária e de diversos voluntários, na instalação e manutenção da barreira de contenção.
Informações e fotos: Anders Schmidt