Pressa

Pressa

Como Engenheiro de Segurança já estudei vários acidentes, e já dei palestras sobre suas causas, lembrarei aqui de dois fatores, a autoconfiança, como exemplo pense em um homem no aeroporto, vendo um painel que diz que o cigarro tem três mil substâncias cancerígenas, mas ele continua fumando e a pressa, onde existe a passarela, mas as pessoas atravessam a rua, relegando o item de segurança. O brasileiro tem pressa.

Identifiquei essa característica em mim mesmo. Ia atravessar uma avenida, em Lisboa e vi que um grupo de pessoas estava imóvel na calçada, esperando o sinal abrir. Era um grupo grande, 15 ou 20 pessoas de pé, a uma distância de pelo menos um metro uma da outra. Fui me metendo no meio delas, avançando em zigue-zague, até alcançar o meio-fio. Queria ser o primeiro assim que o semáforo ficasse verde. Notei que ninguém se incomodou em ser “ultrapassado”. Ao contrário, as pessoas se surpreendiam um pouco com a minha passagem e abriam espaço, como se dissessem: “Se você está com pressa, vá, siga adiante!”.

Era uma manifestação de solidariedade: eu devia estar atrasado para chegar a algum compromisso, por isso podia pular na frente de todos. Só que eu não estava atrasado. Enquanto atravessava a rua, pensei: por quê? O que ganhava com aquilo? Não ganhava nada. Passei na frente apenas por questão de hábito. Era assim que eu fazia. O brasileiro corre para frente porque tem medo de ser passado para trás.

No Brasil, o cidadão enfrenta o risco diário de ser enganado, de perder o seu lugar, de não receber o que lhe é de direito. Na ditadura você precisava dos favores do governo. Se o governante não gostava de você, não há lei que o proteja. Então, você tem de conquistar simpatias, você tem de convencer o outro a lhe ajudar, você tem de correr, ou alguém, com mais influência, vai pegar o que é seu. É importante ter influência e chegar antes dos outros. Donde, a pressa.

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