PRECONCEITO

“Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? Aquele que teve misericórdia dele, respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: Vá e faça o mesmo.” (Lucas 10.36-37)

Falar sobre preconceito é algo controverso, mas resolvi arriscar. As Escrituras não tratam o tema diretamente, portanto você não encontrará a palavra “preconceito” nela. Mas o preconceito é uma transgressão do principal mandamento e uma clara contradição do espírito cristão. Mas poucas vezes isso é dito em nossos cultos. Todos temos muito a crescer em consciência sobre esse pecado. Por isso resolvi correr o risco.

Refletindo sobre o tema, considerei ser possível que o mestre da Lei tenha revelado seu coração preconceituoso ao responder “aquele que teve misericórdia”, sem referir-se ao samaritano. Penso que ele teria falado diretamente sobre o levita ou o sacerdote, se fosse o caso, mas preferiu não fazer isso em relação ao homem que naturalmente desprezava e de quem não considerava ser possível vir nada de bom.

A parábola de Jesus não apenas ensinou sobre o amor ao próximo, mas também confrontou as categorias sociais, a maneira de o perito na Lei ver o mundo e as pessoas. Todos temos essas categorias. Aprendemos isso, não nascemos assim. Precisamos ser sensíveis à confrontação que o Evangelho de Jesus faz ao que nos acostumamos mas que, de fato, é um pecado. Nosso mundo e sociedade está edificado sobre preconceitos e não estamos livres deles. Precisamos reconhecer isso!

Se nos surpreende ver um homem preto na posição de líder e homens brancos a seu serviço, não seria preconceito? Se nos surpreende quando o cirurgião que cuidará de nosso caso é uma mulher preta e a enfermeira é na verdade um homem, e branco, não seria isso preconceito? Preconceitos estabelecem padrões e padrões alimentam preconceitos.

Em nossa sociedade o padrão é que pessoas pretas estejam na parte debaixo da pirâmide social. O padrão é que sejam a maioria nos presídios e aqueles que mais sofrem morte violenta. O padrão de beleza apenas muito recentemente passou a considera-las, mas a reação da maioria é cínica em relação a isso. Há muitos nomes humilhantes pelos quais pessoas pretas são tratadas. Tudo isso é preconceito, e é pecado. E habita pessoas e estruturas sociais.

O preconceito produz obstáculos, segrega e nega oportunidades iguais. Suas vítimas carregam feridas, muitas feridas. Feridas causadas por olhares, palavras, atitudes e silêncios. Todos ofensivos e violentos e que se tornaram padrão em grande parte do mundo de hoje. Se não somos vítimas, é fácil ignorar e até achar um exagero. Mas, não vemos o que devíamos ver, essa insensibilidade é pecado.

E o que falar dos homossexuais? Para muitos eles são o símbolo do profano, do corrompido, do promíscuo. São pessoas más e prontas a corromper quem se aproximar. São inimigas da família e sem temor a Deus. São pessoas para quem Deus virou as costas e que merecem o completo desprezo e antagonismo. Seriam essas pessoas exceção ao dever de amar o próximo? Podemos tratá-las com preconceito e ignorar completamente suas vidas, como vidas que não precisam ser conhecidas, cuidadas? Respeitá-las e servi-las está fora de nosso dever cristão?

O pecado do preconceito. Raramente alguém está livre dele. É importante que nos examinemos e o reconheçamos. Como cristãos devemos reconhecer o valor de todo ser humano e nos levantar contra toda atitude que represente o contrário. Afinal, para quem segue Jesus, a dor do outro é também a sua dor. E uma vida, qualquer vida, vale mais que o mundo inteiro!

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