Possível caso de reinfecção de coronavírus na Grande BH é investigado pelos órgãos de Saúde

Coronavírus Sars-Cov-2 em imagem de microscópio eletrônico — Foto: NIAID-RML/Handout via Reuters
Coronavírus Sars-Cov-2 em imagem de microscópio eletrônico — Foto: NIAID-RML/Handout via Reuters

Um caso de possível reinfecção de coronavírus está sendo estudado no município de Itatiaiuçu, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Um jovem de Minas Gerais, que tinha testado positivo para Covid-19 em abril, voltou a ser diagnosticado no final do mês de junho, e morreu nesta semana, no dia 6 de julho.

O homem tinha 22 anos e era técnico de enfermagem. Em abril, os sintomas dele eram leves.

Depois de cumprir o isolamento, o jovem voltou ao trabalho, em Itaúna, na região Centro-Oeste do estado. Ele realizou novamente o teste em maio, e o resultado foi negativo para coronavírus.

Mas, em junho, o rapaz procurou a Policlínica de Itatiaiuçu com sintomas graves da doença, e foi encaminhado para um hospital de Itaúna, onde morreu. O paciente realizou novamente o teste e o resultado foi positivo.

De acordo com a responsável pela epidemiologia da Policlínica, Gláucia Vilela, a reação do rapaz ao coronavírus pode ter alguma relação com uma alteração genética que a mãe dele tem.

“Neste ano a gente teve um diagnóstico da mãe dele com uma alteração genética que gerava predisposição às infecções. Se chama GATA2. Essa alteração confere baixa imunidade. Então, nosso raciocínio clínico é que de ele pudesse ter essa herança genética da mãe, e, por isso, uma suscetibilidade maior às infecções”, disse Gláucia Vilela.

Os familiares do rapaz também passaram por testes de coronavírus e os resultados foram negativos.

O que dizem as autoridades de saúde

A Secretaria de Saúde de Itatiaiuçu afirma que o caso já foi comunicado e já está sendo debatido com o governo de Minas.

A Secretaria de Estado de Saúde informou que, “até o momento, não há registro oficial sobre casos de reinfecção ou reativação pelo novo coronavírus no Estado”. Em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (30), o secretário adjunto de Saúde, Marcelo Cabral, disse que o caso está sendo investigado pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de Minas Gerais (Cievs).

A reportagem questionou a pasta se, diante de dois exames RT-PCR feitos pelo mesmo paciente, o caso passará a ser investigado como o primeiro de reinfecção no estado e qual o trâmite numa situação como esta. A secretaria estadual não respondeu.

O Ministério da Saúde informou que está em contato com a Secretaria de Estado de Saúde, “que investiga o caso”, mas que, “neste momento, não é possível afirmar que esta é a segunda vez que a doença o atingiu”.

“De acordo com a literatura médica, existem casos de pacientes curados de Covid-19 que voltam a apresentar um novo episódio da doença, mas não existem certezas se estes quadros representam uma nova infecção ou uma recidiva do quadro inicial. Faltam evidências científicas se são resquícios da mesmo infecção”, concluiu o Ministério da Saúde, que disse que mais estudos devem ser realizados para tentar sanar as lacunas.

A Organização Mundial de Saúde afirma que não há evidências de que pessoas que se recuperaram da Covid-19 tenham anticorpos contra a doença. Ainda não é possível saber se a reinfecção ocorre de fato. Isso tem sido objeto de estudo no mundo todo.

Cientistas ainda não têm a resposta

Quem já pegou o novo coronavírus, pode pegar de novo? Se eu já desenvolvi a doença, estou protegido? Os cientistas ainda não têm a resposta para essas questões.

Em artigo publicado pela “Nature Medicine”, o autor Ai-Long Hua, da Universidade Médica de Chongqing, na China, descreveu as características imunológicas e clínicas de 37 pacientes assintomáticos com o Sars CoV-2. O vírus foi detectado por meio de exame coletado no nariz e garganta dos participantes. Oito semanas depois, os níveis de anticorpos neutralizantes diminuíram 81,1%.

Gustavo Cabral, imunologista e coordenador de um projeto de vacina contra a Covid-19, disse que o estudo alerta para uma ineficiência dos anticorpos após a infecção, mas esclarece que o sistema imunológico do corpo humano possui outras formas de criar proteção contra os vírus.

Dois outros mecanismos contra invasores não foram levados em consideração no estudo, aponta Cabral. O primeiro deles é a imunidade inata: a proteção desenvolvida pela criança no início da vida, recebida em parte como herança da mãe e também pela amamentação. Isso é um dos pontos, segundo o imunologista, que é urgente nas pesquisas e que pode responder a outras perguntas, como o fato de as crianças serem mais resistentes ao vírus.

O segundo ponto, também detalhado em comentário publicado pela “Science” nesta terça-feira (23), é a importância das células T, aquelas que também agem diretamente na proteção contra a infecção nos tecidos. De acordo com Cabral, o artigo leva em consideração basicamente a nossa imunidade adaptativa, ponto importante para pesquisar vacinas e medidas contra a Covid-19, mas não o único.

“Temos que levar em consideração os linfócitos e avaliar a imunidade inata. A maioria das pessoas não desenvolve a doença. Você sabe que as crianças e os jovens são um grupo de menor risco. Por isso, gente precisa olhar para a imunidade inata. A gente não pode imaginar uma vacina contra o vírus só com base nesses anticorpos [do estudo]”, disse Cabral.

Portanto, o caminho científico para afirmar que os seres humanos podem ter uma reinfecção pelo Sars CoV-2 ainda está em aberto. Natália Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência, diz que este estudo com pacientes assintomáticos mostra a necessidade de novos elementos para medição da imunidade após a infecção.

Segundo a cientista, a pesquisa é promissora no sentido de jogar luz sobre a necessidade de pesquisar a ação das células T e também da imunidade inata em pacientes que tiveram a Covid-19. A questão é que esses outros mecanismos do sistema imunológico não são tão fáceis de medir. Por isso, a importância de tecnologias acessíveis para avaliar a proteção contra o vírus após a cura.

“Esses anticorpos são um dos marcadores, que são muito utilizados para medir a resposta. A gente também tem os linfócitos T. Ou seja: não ter os anticorpos não quer dizer que o corpo não tenha como se defender. A questão é que as células T não são fáceis de medir”, disse Pasternak.

Resultados iniciais de uma pesquisa que ainda está em curso mostram que em breve os cientistas podem ter mais uma evidência sobre o assunto. No final de maio, um mês após serem induzidos à infecção, macacos curados ainda estavam protegidos contra o Sars CoV-2. Os cientistas pretendem seguir com o acompanhamento na Universidade Harvard.

Os primatas continuarão protegidos, dois meses depois? Pasternak disse que está ansiosa pelos resultados futuros, que podem trazer mais uma peça para responder à pergunta inicial: é possível ter a Covid-19 mais de uma vez? Por enquanto, a ciência não sabe.

Fonte: G1

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