Porto Seguro: Moradores de ruas geram dilema social

Por Daniel do Valle/O Sollo

Alguns comerciantes reclamam dos abusos e falta de segurança, outros ajudam com doação de alimentos.

Quem frequenta a Avenida Navegantes e ruas paralelas, no Centro da cidade, já deve ter notado a presença de moradores de rua, principalmente durante as noites e manhãs. Com o por do sol e o fechamento de alguns comércios, certas marquises e toldos são usados como abrigo. Entre os proprietários de lojas e restaurantes, a questão social divide opiniões e exige providências.

A comerciante Márcia Góes, proprietária de uma loja de tortas na Galeria Mosaico, enfrenta o problema diário. Um grupo de mendigos, aproximadamente quatro, passa as noites no local, devido ao piso quente de madeira e a proteção do toldo.

“A presença deles incomoda os clientes e nos intimida. O local fica sujo e com mau cheiro de urina. Temos que lavar e desinfetar o passeio todos os dias. Já amarramos o toldo para evitar o transtorno, mas eles não respeitam e abaixam durante a noite. A cidade vive do turismo e isso atrapalha,” reclama.

Proprietária de um restaurante na mesma localidade, Maria do Carmo Gusmão, convive com a mesma realidade. A varanda do estabelecimento é outro ponto escolhido pelos moradores de rua. “Já encontramos até barraca de camping armada aqui dentro. Alguns são visivelmente usuários de drogas e nos afrontam quando pedimos para que saiam pelas manhãs. Nós até ajudamos, não é preconceito, mas às vezes são hostis. Vamos ter que instalar grades de proteção,” afirma.

Um dono de restaurante, que não quis si identificar, se solidariza com a causa e não a enxerga como um problema unilateral. Ele separa restos de comida todos os dias e um grupo de moradores de rua é agraciado. “Não podemos ignorar essas pessoas, são seres humanos como nós. Cada um tem uma história e a maioria é vítima do desemprego, da falta de qualificação, das drogas e falta de oportunidades. No fundo é um problema social e não apenas do indivíduo,” ressalta.

Assistência Social

De acordo com a secretária do Trabalho e Desenvolvimento Social, Lívia Bittencourt, apenas nesse ano, cerca de 50 moradores de rua foram encaminhados para as cidades de origem através do contato com as famílias. Quem tem alguma qualificação profissional ou vontade de trabalhar recebe apoio e encaminhamento. A maioria vem do interior da Bahia e de estados vizinhos como Espírito Santo e Minas Gerais.

“Até julho será inaugurada a “Casa de Passagem” em local a ser determinado. O objetivo é receber essas pessoas, por no máximo três meses, para que tenham acompanhamento profissional e tempo de se reestruturar em busca de um trabalho, ou para voltar às cidades de origem. Mas hoje muitos são atendidos através do Centro Pop, com acompanhamento de psicólogo e assistência social”, ressalta Bittencourt.

Vida nas ruas

Desempregado há nove meses, João Silvério (37), veio da zona rural de Mucuri. Depois de perder o emprego na lavoura tentou a vida em Teixeira de Freitas, Eunápolis e acabou chegando à Porto Seguro no início do ano. Sem mão de obra especializada, diz que faz qualquer tipo de trabalho braçal, mas com a falta de emprego vive mesmo de bicos, esmolas e doações de alimentos.

Já o morador de rua Antônio da Silva (45), mais conhecido como Toninho Doido, diz levar a vida “viajando” e está de passagem por aqui. “Saí de São Paulo há mais de 15 anos e nunca mais voltei. Fico de cidade em cidade vendo as coisas, vivendo e conhecendo. Sobrevivo com que Deus me dá e não me preocupo com o amanhã. Acostumei a ser sozinho por essas estradas, vivo fora do mundo como ele é, e prefiro assim,” explica Silva.

“O direito de ir e vir” está dentro da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Já o “direito de permanecer” em propriedades privadas, que dependem do turismo, não foi contemplado e os moradores de rua não tem esse direito.

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