Pataxó diz que estratégia é usada para chamar parentes e também na caça.
A pedido do G1, Itaguari imitou cinco espécies de pássaros típicos da Bahia.
Índios da tribo Pataxó, da Bahia, mostraram ao G1 como fazem para se comunicar no meio da mata preservada na região de Porto Seguro (BA). Eles usam um apito de madeira para imitar o som de pássaros. O repertório é incontável, segundo o indígena Itaguari, que está na Aldeia Kari-Oca, montada na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, na zona Leste do Rio.
Ao menos 15 etnias, representadas por mais de 450 índios, estão no local desde o começo do mês com o objetivo de entregar um documento, com demandas indígenas sobre o meio ambiente, para integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU) que participam dos debates da Rio+20.
O índio pataxó disse que usa o som dos pássaros para ficar “invisível” na floresta. “Esse é nosso jeito de chamar alguém da família que está na mata e também nos ajuda a atrair pássaros enquanto caçamos”, afirmou Itaguari.
Durante a a feira de artesanato sustentável, realizada pelos índios na Kari-Oca, nesta quinta-feira (14), eles também usaram o apito para chamar a atenção de possíveis consumidores. O preço das mercadorias varia de R$ 2 a R$ 300, dependendo do material usado.
Rotina indígena
Nesta quinta-feira, os índios realizaram a cerimônia de abertura oficial dos Jogos Verdes na Kari-Oca. As apresentações esportivas vão começar na arena nesta sexta-feira (15). O objetivo da ação esportiva é chamar a atenção dos participantes da Rio+20 para os problemas ambientais do país e sobre as questões de soberania indígena e demarcação de terras.
Índios globalizados
Indígenas do Brasil, México, Guatemala e até do Japão estão na Kari-Oca. Todos devem participar da redação de um documento com reivindicações que será apresentado por Marcos Terena, responsável pela Kari-Oca, para representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) que participam da Rio+20.
Os índios fizeram o mesmo na Rio92, quando redigiram a Carta da Terra, com 109 recomendações focadas na soberania indígena.
Fogo sagrado
A cerimônia do fogo sagrado ancestral indígena foi realizada no ponto exato onde os índios montaram a Oca em 1992. Neste ano, no entanto, eles foram impedidos de montar a habitação no mesmo local por conta de um laudo feito pela Fiocruz sobre os riscos à saúde dos índios. “Eles disseram que tem leishmaniose naquele trecho. Nosso pajé foi lá e disse que não tem. Acreditamos no pajé e não no papel da Fiocruz. Vocês estão vendo mosquito ou formiga aqui?”, disse Terena, se referindo ao trabalho espiritual feito pelos pajés no local.
Participaram da cerimônia de abertura da Kari-Oca índios das tribos xerente, paresi, manoki, terena, gurani kaiwa, guarani, kayapó, pataxó, pataxó hã hã hãe, bororo e xavante. Além das etnias brasileiras, o acendimento do fogo sagrado também contou com a participação de índios Sioux, do Canadá; dos astecas, do México; e dos mayas, da Guatemala.
Belo Monte
Terena afirmou ainda que a ONU não quer debater os efeitos danosos que a construção da Hidrelétrica de Belo Monte pode provocar ao meio ambiente. “Belo Monte é um caso consumado. Temos de pensar lá na frente. A ONU quer debater energia sustentável. Então vamos falar dos projetos de contrução de seis hidrelétricas que estão previstas na Amazônia.”
Fonte: Glauco Araújo/G1