Ao velho amigo Durval Olivieri!
Dizer que o professor João Eurico Matta, nascido em 16 de julho de 1935, foi o homem mais culto da minha geração, equivale a defini-lo a partir, apenas, de uma de suas dimensões.
Poliglota de escol, João Eurico Matta, circulava com aplaudida desenvoltura por domínios tão distintos como a literatura, a história, a sociologia, a filosofia, a administração, sem falar na língua portuguesa, campo em que estreou no magistério, em 1954, aos dezenove anos, quando ainda cursava o segundo ano de Direito. Mais tarde alternaria o ensino de disciplinas tão diferentes como Literatura Contemporânea, Educação, várias disciplinas no campo da Administração Pública e Privada, áreas em que foi pioneiro na Bahia.
Sua diversificada produção intelectual incluiu títulos como Filosofia e Divórcio, de 1953, quando contava, apenas, 18 anos; Auguste Comte e a crise da Física Contemporânea, de 1957, aos 22 anos; Os intelectuais soviéticos e a luta ideológica em Física, de 1958; Direito, humanismo e liberdade, discurso de formatura, em 1958; Gênese de um processo de mudança administrativa, 1971; Desenvolvimento Organizacional e Treinamento, 1979; Dinâmica de Grupo e Desenvolvimento de Organizações, em dois volumes, 1975; Escola de Administração: vinte anos de história institucional, 1979; A influência da Teoria da Decisão de Herbert A. Simon, 1979; Cientificismo e religiosidade em Antero de Quental e Jackson Figueiredo, 1993; Trajetória intelectual de Afrânio Coutinho, 2003; Modernização do Poder Executivo na Bahia: Estratégia e Dinâmica do Programa de Reforma Administrativa do Governo Lomanto Júnior (1963-1967), 2017. Nesta obra, Matta aborda o processo de declínio da estrutura administrativa da Bahia, na época, até a implantação de uma nova estrutura moderna. A mais disso, ele proferiu inúmeras conferências e escreveu artigos e prefácios para conteúdos variados.
Além de Professor Emérito da UFBA, onde ensinou por 38 anos, João Eurico dirigiu o ISP – Instituto de Serviço Público; foi secretário extraordinário para a Reforma Administrativa, entre 1963 e 1967, durante o governo Lomanto Júnior; presidiu o Conselho Regional de Administração da Bahia, 1997-2006; foi fundador e presidente de honra da Academia Baiana de Ciência da Administração; foi titular de Administração da Universidade Católica do Salvador. A consultoria empresarial que desenvolveu ao lado do saudoso Alaor Coutinho ganhou destaque nacional.
Membro de várias entidades culturais, tive a honra de partilhar com ele a convivência no IGHB – Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; na ALAS – Academia de Letras e Artes de Salvador; na ABE – Academia Baiana de Educação e na Academia de Letras da Bahia, onde substituiu o notável jurista Orlando Gomes.
Mantive, sempre, diante de João Eurico Matta a postura de um reverente discípulo perante um respeitável e iluminado mestre que me deu a honra de, generosamente, prefaciar o meu livro de 2018 – Como Governar um estado; o caso da Bahia.
A esse prodigioso currículo impõe-se acrescer a exemplaridade do cidadão estadista, dotado de olímpica imperturbabilidade, que parecia emerso das páginas do If de Rudyard Kipling, como intelectual, amigo e inigualável chefe de família, de refinada educação que herdou do berço fecundo presidido pelos pais Euníce Tavares Freire Matta e Edgard Matta, o legendário penalista que atraía multidões para acompanhar o brilho de seu desempenho no Tribunal do Júri.
Tudo isso no corpo de um Adónis moderno, beleza física que o tempo, este canalha, não ousou subtrair de nosso pranteado amigo, que nos deixou, no último dia 9, aos 86 anos, 3 meses e 24 dias. Motivo de justificável orgulho para Geysa, mulher, musa e inseparável amiga, filhos e netos: Alfredo, Maria Helena, Maria Cristina, Rebeca, João Paulo, Camila, Giovana, Vanessa, Priscila, João Marcelo e Francisco.
Em apertada síntese: num concurso olímpico, João Eurico Matta levaria a medalha de ouro como a personalidade mais educada do nosso tempo.
Por Joaci Góes
Fonte: Tribuna Online