Polícia Federal investiga fraude em aportes do BNDES à JBS

Polícia Federal investiga fraude em aportes do BNDES à JBS
Um dos investigados, de camisa branca, chega à Polícia Federal, no Rio, por causa de operação Bullish, que investiga fraudes em aportes concedidos pelo BNDES à JBS (Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo)

BRASÍLIA – A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta sexta-feira, a Operação Bullish, que investiga fraudes em aportes concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da subsidiária BNESPar, à JBS. Os aportes teriam sido realizados após a contratação de empresa de consultoria ligada ao ex-parlamentar Antonio Palocci, e teriam passado por tramitação recorde, segundo disse ao jornal O GLOBO uma fonte vinculada ao caso. Palocci está preso em Curitiba (PR).

Entre os alvos dos mandados estão Luciano Coutinho, que presidiu o banco de fomento entre 2007 e 2016, e os irmãos Joesley e Wesley Batista, que ficam à frente das empresas do grupo. Joesley Batista, no entanto, está em Nova York, como informa a coluna do Lauro Jardim.

Os aportes teriam sido feitos a partir de junho de 2007 e utilizados para aquisição de outras empresas no ramo de frigoríficos, no valor de R$ 8,1 bilhões. A Polícia Federal encontrou indícios que as operações foram executadas sem exigência de garantias e com a dispensa indevida de prêmio contratualmente previsto, o que teria gerado um prejuízo de aproximadamente R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos.

Foram cumpridos 37 mandados de condução coercitiva (30 no Rio de Janeiro e sete em São Paulo) e 20 mandados de busca e apreensão (14 no RJ e seis em SP). Além disso, foram tomadas medidas de indisponibilidade de bens de pessoas físicas e jurídicas que participam direta ou indiretamente do controle acionário da JBS, até o limite do prejuízo que teria sido gerado.

Os controladores do grupo também ficaram proibidos de promover qualquer alteração societária na empresa investigada e de se ausentar do país sem autorização judicial prévia. A Polícia Federal monitora cinco dos investigados que encontram-se em viagem ao exterior.

NOME DA OPERAÇÃO

No jargão do mercado financeiro, “bullish”, ou “bull market”, é usado para designar um momento em que as ações em geral estão em tendência de alta. “Bull”, que em português quer dizer touro, é usado como metáfora por causa do ataque do animal, feito com os chifres de baixo para cima. Quando o mercado está em tendência de baixa, o mercado chama de “bear market” ou “bearish”, derivado de “bear” (urso), também inspirado no modo de ataque do animal, num movimento de cima para baixo.Segundo a Polícia Federal, os aportes da BNDESPar levaram as ações da JBS a movimentos de alta na Bolsa de Valores de São Paulo.

NOTAS DA JBS E DO BNDES

Em nota, a JBS nega que tenha sido favorecida pelas operações feitas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da subsidiária BNESPar, e que elas foram realizadas de acordo com as regras do mercado de capitais no Brasil. Já o BNDES divulgou comunicado afirmando que está buscando informações sobre a operação, dá apoio a seus funcionários e colabora com as autoridades.

A defesa do ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, por sua vez, argumentou que “todas as operações com a JBS foram feitas dentro da mais absoluta regularidade” e que ele sempre esteve à disposição para esclarecimentos sobre o assunto.

“Todo o investimento do BNDES na companhia foi feito por meio da BNDESPar, seu braço de participações, obedecendo a regras de mercado e dentro de todas as formalidades. Esses investimentos ocorreram sob o crivo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e em consonância com a legislação vigente. Não houve favor algum à empresa”, justificou, em nota, a empresa.

MINISTRO NÃO COMENTA OPERAÇÃO

O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, não quis comentar a operação da Polícia Federal (PF) que investiga fraudes em aportes concedidos pelo BNDES. Na hierarquia do governo, o banco público é subordinado a essa pasta.

— Não vou fazer comentário nenhum sobre isso — disse Oliveira.

FUNCIONÁRIO PRESTA DEPOIMENTO

Na sede da Polícia Federal, no Rio, André Teixeira Mendes, que era gerente de carteira de capitais da área de mercado de capitais do BNDES em 2011, negou que o banco favoreceu o grupo JBS em transações e foi embora de VLT da sede da PF:

– A polícia está tentando apurar denúncias. O BNDES tem prestado informações, os funcionários hoje foram levado de maneira surpreendente para prestar depoimentos que nós já estávamos prestando. Acho que no final das contas tudo já está esclarecido e não tem nada a esconder. Vamos esclarecer tudo.

Em 2011, Mendes já havia prestado depoimento ao Ministério da Justiça no Senado sobre as mesmas transações do BNDES que estão sendo apuradas pela PF agora – a compra de cinco frigoríficos menores pelo BNDESPar e pela JBS. No entanto, na época, a investigação era em torno de uma possível cartelização dessa compra. O BNDESPar tem participação de 21% no grupo JBS.

 

 

 

 

 

 

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