Poeta

Estive no parque das Mangabeiras, na Chapada Diamantina, no Vale do Capão, onde a beleza imutável que mescla o verde das árvores com o céu azul encanta a alma.

É natural que estar preso nas garras da sobrevivência de uma metrópole nos torne insensíveis e afastados emocionalmente da beleza da natureza bruta. Queremos dinheiro, então nos transformamos em máquinas.

“A forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve… E a palavra pesada abafa a ideia leve” – já dizia Olavo Bilac.

Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus e o poeta diz com poesia:

Declama: “Antes se arrepender de uma aventura já vivida, mesmo que tenha custado aflição e amargura, do que o arrependimento de se ter perdido o que poderia ser ventura ou desventura.”

A marcha da vida, sem poesia, é mais penosa, mais lenta e mais cansativa.

Acreditamos ser indispensável que a vida nos proporcione o que a criança tem de sobra: “magia e encanto” .

Sim, a vela que, na infância, arde no bolo de aniversário é a mesma que enfeita o caixão.

Mas na lápide do poeta eu escreveria: “Morreste alma boa, alma pura, neste misterioso lugar chamado ‘vida’ onde o nada final se lança sobre o tudo de sua poesia”.

No cemitério deserto, as luzes cochilavam, a poluição do som da cidade não chega na alma do poeta morto. A cidade fica para tirar sempre algo de nós, mas o essencial, que os olhos não veem, foi deixado no mundo pela beleza da poesia.

*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.

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