Acordei e vi de onde moro a marquise de um curso de inglês, que nesta pandemia está fechado, e um casal passou a noite ali protegidos do frio e da chuva, estes personagens não tem cores, caminham por um mundo cinzento e desconhecido, para eles os sons da cidade, como conhecemos, parecem surdos e distantes: só ouvem as batidas fortes e constantes de seus corações, o mundo real os atinge em cheio com a luta diária pela sobrevivência.
Seus momentos não contém promessas, muito menos a de que haverá um instante seguinte. Vivem no centro de muitas noites negras e penosas. Passam os dias sem compreender o mundo, talvez não tenham tempo para o vazio melancólico, pois o tempo é todo preenchido na busca do que comer e onde dormir, vivem sempre do lado errado da cidade, não importando qual lado seja.
Sempre tem uma relação transtornada com o tempo. Vivenciam o tempo a partir de uma perspectiva da morte. Somos obrigados a ser cruéis contra a nossa vontade, vivendo na mesma cidade de forma tão diferente.
A inação em que eles vivem não sensibiliza mais, a nossa atenção está voltada para a pressa e urgência dos compromissos diários, mas deprava o espírito de quem vê.
Neste mundo cinzento, a carência se destaca sempre. Estas milhares de pessoas que estão utilizando o auxílio emergencial, milhares de vozes e caminhos mostram algo em comum, um mundo pobre solitário e carente. Este é o mundo que nos prende; estamos amarrados a ele pelos fios de mil telefones.
Para viver é preciso que se espere algo de bom. Não esperar nada é realmente viver? Então, a saída é sempre a política que cuida do bem comum.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.