A Polícia Federal (PF) iniciou na manhã desta terça-feira (26) a Operação Placebo, sobre suspeitas de desvios na Saúde do RJ para ações na pandemia de coronavírus. São 12 mandados de busca e apreensão — um deles no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador Wilson Witzel (PSC).
Resumo:
- Witzel e sua mulher, Helena, são alvos de mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ;
- Governo do RJ não se pronunciou sobre a operação até as 8h30;
- Outra operação da PF há duas semanas prendeu cinco pessoas, entre elas o empresário Mário Peixoto, que tem contratos de R$ 129 milhões com o governo do RJ;
- Após essa operação, a Lava Jato no Rio enviou citações a Witzel para a Procuradoria-Geral da República.
Às 8h40, agentes saíram do Palácio Laranjeiras com um malote com documentos.
Equipes da PF também foram mobilizadas para a casa onde Witzel morava antes de ser eleito, no Grajaú, e no escritório de advocacia do governador, que é ex-juiz federal.
Gabriell Neves e Iabas também são alvo
Outros alvos da ação desta terça são Gabriell Neves, ex-subsecretário de Saúde de Witzel preso na Operação Mercadores do Caos, e o Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde), organização social (OS) contratada pelo governo do RJ para a construção de sete hospitais de campanha no estado.
Equipes foram para a casa de Gabriell, no Leblon, e nos escritórios da Iabas no Centro do Rio e em São Paulo, onde fica a sede da OS.
A assessoria do Iabas informou por volta das 8h20 que ainda não tem informações e que se posicionará depois.
Aonde a PF foi
- Palácio Laranjeiras: residência oficial do governador e da família;
- Rua Professor Valadares, Grajaú: residência onde morava Wilson Witzel;
- Rua Dezenove de Fevereiro, Botafogo: residência de Edmar Santos, ex-secretário de Saúde;
- Avenida Ataulfo de Paiva, Leblon: residência de Gabriell Neves;
- Rua da Assembleia, Centro: escritório do Iabas;
- Rua México, Centro: sede da Secretaria Estadual de Saúde.
Atrasos e suspeitas
O governo do estado anunciou R$ 1 bilhão para o combate à Covid-19. A maior parte desse orçamento — R$ 836 milhões — foi destinada para o Iabas em contratos emergenciais, sem licitação, para hospitais de campanha.
Foram prometidas sete unidades em pleno funcionamento até o dia 30 de abril, mas nenhuma foi aberta no prazo.
- Maracanã: aberto parcialmente dia 9, e uma ala foi ‘inaugurada’ na última sexta (22);
- São Gonçalo: uma inauguração foi anunciada para o dia 17, mas a unidade só deve abrir nesta quarta (27);
- Nova Iguaçu: deve abrir na sexta (29)
- Duque de Caxias: agendado para segunda (1);
- Nova Friburgo: prometido para 7 de junho;
- Campos dos Goytacazes: deve abrir em 12 de junho
- Casemiro de Abreu: o mais atrasado, programado para abrir dia 18 de junho.
Desse montante — e antes de ter recebido o primeiro leito dos sete hospitais contratados —, o estado já tinha adiantado R$ 256 milhões, em três levas:
- Uma de R$ 60 milhões, paga em duas vezes, nos dias 13 e 15 de abril, sem especificação de onde seria o usado o dinheiro;
- Uma de R$ 68 milhões, para pagar respiradores e finalização da montagem dos hospitais;
- E outra parcela, no valor de R$ 128,5 milhões.
Suspeitas de irregularidades nesses contratos emergenciais tinham motivado duas operações até então.
- Mercadores do Caos, da Polícia Civil do RJ e do Ministério Público do RJ, sobre respiradores;
- Favorito, da PF, sobre tentativa de fraudar mais contratos.
Mercadores do Caos
Na primeira, investigada pelo estado, foram presas cinco pessoas, em duas etapas.
- Gabriell Neves, subsecretário de Saúde do estado, exonerado antes da prisão;
- Gustavo Borges, que sucedeu Gabriell na pasta, exonerado depois da operação;
- Aurino Filho, dono da A2A, uma empresa de informática que ganhou contrato para fornecer respiradores ao estado;
- Cinthya Silva Neumann, sócia da Arc Fontoura;
- Maurício Fontoura, controlador da Arc Fontoura e marido de Cinthya.
Três empresas — a Arc Fontoura, a A2A e a MHS Produtos — são investigadas por suposta fraude na compra de mil respiradores. Somente 52 foram entregues, mas com especificações diferentes.
A suspeita é que houve vantagem indevida nos contratos, cujo valor total é de R$ 183,5 milhões.
A Operação Favorito
Em mais uma etapa da Lava Jato no RJ, a Polícia Federal prendeu no último dia 14 o ex-deputado estadual Paulo Melo, o empresário Mário Peixoto e outras três pessoas.
Peixoto e Melo, que já foram sócios, acabaram presos porque surgiram indícios de que o grupo do empresário estava interessado em negócios nos hospitais de campanha do RJ.
Segundo as investigações, mesmo antes da contratação, planilhas de custos já estavam sendo confeccionadas — o que levantou a suspeita de fraudes no processo.
Peixoto é dono de empresas que celebraram diversos contratos, como o de fornecimento de mão de obra terceirizada, com os governos estadual — desde a gestão de Sérgio Cabral, cresceu durante o governo de Luiz Fernando Pezão e presta serviços ao governo de Wilson Witzel — e está em unidades do governo federal.
Fonte: G1