É bela, esta ilha de Itaparica, com praias mansas, com mangues e mar aberto. Se os pescadores não pescam mais peixes é porque na maré de lua nova as águas sobem e descem com fúria demais. Mas pescam o principal: o silêncio e a brisa dos mangues entardecendo, a garrafa de água dente passando de mão em mão. São pescadores de sossego e amizade: pescam a melancolia altiva da ponte do funil. A vida é vaga, mansa…
No chão da praia de Cacha-prego ver uma grande quantidade de siris minúsculos, cada um erguendo no ar uma puã única. Ao longo da margem, a terra é toda crivada de buracos onde eles se escondem quando a gente – esse monstro, o homem- avança. A gente se afasta, eles saem dos buracos e enxameiam outra vez, puãs no ar, numa vida de guerra e fome. Isto é a vida dos pescadores, essa teimosia feroz de cada dia. Um instinto sem finalidade além da vida mesmo- a vida que se defende para se repetir em mais uma geração de siris, e de pescadores tropeçando nos mesmos enganos, avançando com a mesma obstinação…. para quê? O melhor é tomar mais uma cachaça, fumar um cigarro e dormir. Dormir de corpo largado, como se fosse para todo o sempre.