Em Paris, existe a Galeria Lafaiete, o paraíso dos perfumes. A memória dos perfumes aloja- se na parte mais arcaica do cérebro. Somos supostamente capazes de distinguir até três mil odores. Um bebê em lágrimas acalma-se assim que reconhece o cheiro do pescoço da mãe que o pega no colo. Nos braços de qualquer outra pessoa, continua a chorar.
Gosto de um perfume, uso sempre, é um prazer ter este cheiro na pele. Quando conheci minha companheira de vida, senti um cheiro inebriante, certa vez ela abriu a bolsa e vi um pequeno frasco, ela abriu, eu cheirei, era inebriante. Hoje, no armário dela, o couro da bolsinha preta reservada para os trajes formais, fica fortemente impregnado por perfume, esta bolsa é bem mais misteriosa que a bolsa do dia a dia, uma vez que, nela, o cheiro parece sobreviver indefinidamente a todos os seus componentes. Tem um cheiro com uma sensação de penetrar no coração de um mistério. Me perfumo para intensificar o que sou. Perfumar-se é uma sabedoria instintiva. E como toda arte, exige algum conhecimento de si próprio. Uso um perfume cujo nome não digo: é meu, sou eu. Não digo o nome também por segredo: é bom perfumar-se em segredo.