Desde criança, ouço dizer que aos condenados a morte, cumprem-se os últimos desejos. Dá-se-lhe doce, vinho, refeição especial, qualquer coisa que eles peçam. Nunca indaguei se isto era exato ou não, e já agora ficaria aborrecido, se o não fosse. Há nesse uso uma tal mescla de piedade e ironia, que entra pela alma da gente. A piedade, só por si, é triste; a ironia, sem mais nada, é dura; mas as duas juntas dão um produto brando e jovial. Li, até, que um condenado à morte, perguntou-se-lhe, na manhã do dia da execução, o que queria, respondeu querer aprender inglês.
Há de ser invenção; mas achei o desejo real, não só pelo motivo aparente de dilatar a execução, mas ainda por outro mais sutil e profundo. A língua inglesa é tão universal, tem penetrado de tal modo em todas as partes deste mundo, que provavelmente é a língua do outro mundo. O réu não queria entrar estrangeiro no reino dos mortos.
Todos os condenados a morte tem suas histórias, são quase sempre tristes, histórias de pobrezas e injustiças acumuladas, de violências sofridas. Então muitas vezes se perdem vidas, porque no lugar que cabia uma interrogação se lança um ponto final.