“Quando Simão Pedro viu isso, prostrou-se aos pés de Jesus e disse: Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!” (Lucas 5.8)
Talvez possamos dizer que não exista atitude mais apropriada, mais coerente com a nossa fé, mais coerente com a certeza de que fomos encontrados por Deus, de que por meio de Cristo fomos feitos filhos de Deus, do que a consciência de que somos pecadores. Ela é o ponto de partida de nossa vida cristã. Ninguém se torna um cristão sem colocar os pés no terreno de sua própria condição espiritual. E é preciso fazer isso em companhia de Jesus, conduzido por Ele, como aconteceu com Pedro. Sozinhos a consciência de que somos pecadores acaba significando muito pouco. Mas na companhia de Jesus, não. O que quero dizer é que, quando nos vemos diante do amor de Deus, da graça de Deus, de Sua grandeza e santidade, tudo junto… quando, um pouco que seja, percebemos o quanto Deus está próximo, Seu cuidado e interesse por nós, e ao mesmo tempo olhamos para nossos pés cheios da lama de nossos pecados sujando o piso cristalino de Sua presença, o impacto é transformador.
Foi o que Pedro viu. E temeu. Isaías também. Eles estavam acostumados com seus pecados. O que não estavam acostumados era com a proximidade de Deus. Ambos receberam como resposta ao seu espanto, “não tenha medo”. Ambos tiveram suas vidas encaminhadas para mudanças. Essa é a experiência característica da fé cristã. É desse lugar que perceberemos a grandeza da graça e começamos a entender o que seja de fato a vida. E então começamos a concordar mais com Deus e discordar mais e nós mesmos. Começamos a sentir saudade de uma vida que ainda não começamos a viver, por causa do amor que Deus revela ter por nós. A cena é interessante: Deus Santo e um pecador; solo santo de Sua presença marcados pela lama de de nossos pés pecadores. Essa é a única maneira desse encontro acontecer. Pode parecer estranho, mas o segredo dos homens e mulheres que chamamos de santos tinha a ver com uma profunda consciência da própria pecaminosidade. Pois, quanto mais crescemos em santidade, mas claramente percebemos o quanto somos pecadores.
É possível que as cartas de Paulo a Timóteo estejam entre as últimas que teria escrito. E é justamente numa delas que o apóstolo, dono de cicatrizes profundas por sua dedicação ao Evangelho, tendo experimentado embates, revelação, milagres e muito trabalho na obediência a Cristo, que ele declara: Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal (1 Tm 1.15). O efeito dessa consciência é nos fazer humildes, dependentes e vigilantes. Por isso ela nos faz santos. Deus não oferta Seu poder, senão aos que se veem fracos. O Seu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Para os suficientes, para os que se consideram dignos, a graça não basta, A confiança deles está na competência que julgam ter para a vida. Mas para aqueles que não conseguem livrar-se dos próprios espinhos, a graça basta. Você é pecador? Você tem consciência disso? Você se compadece de pecadores? Então você reúne as condições ideais para ser santificado e assim, com mais clareza, ver a Deus e a si mesmo! Pois é disso, da consciência de que há pecado em nós, que depende a santidade dos pecadores.