O pecado original seria o mesmo que erro de fabricação? Um modelo saí da fábrica com o “pecado original” e assim, faz-se necessário um recall para corrigir tal problema. Mas se o problema for o Homem, como realizar o tal recall? E de quem é a culpa? Seria o pecado original culpa de quem fabrica ou de quem compra? Se o erro é de fabricação, então o fabricante é culpado. Mas, seria Deus um fabricante imperfeito? Ora, isso não seria admissível. Assim, não se pode dizer que a imperfeição do Homem seja um mero acidente, mas que ele foi criado com um propósito que pode ser traduzido em perfectibilidade. Ou seja, o homem tem o dever e a obrigação de buscar sua própria felicidade por meio do conhecimento, do estudo edificante e do bem agir. Não o agir egocêntrico ou voltado a suprir suas necessidades instintivas e animalescas, mas de espiritualização do ser, da caridade e de combate ao ego e ao orgulho. Assim, nem o fabricante errou, nem o homem é culpado. Apenas o homem passa a ser responsável por seu destino, senhor de seus atos e dono de todas as consequências, sejam elas positivas ou negativas, que suas ações venham a causar no mundo.
Vejamos no Antigo Testamento o trecho que se refere ao item do pecado original: “Disse o Senhor: ‘você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Não coma a fruta dessa árvore; pois, do dia em que você a comer, certamente morrerá’” (Gen. 2, 16-7).
Deste modo, o pecado original ou condição inicial é ter conhecimento sobre o que é o bem e o que é o mal. É o estado primeiro da consciência do certo e do errado. Não a consciência final. Há, então, um pleno convite ao estudo, ao discernimento e a aprendizagem do agir corretamente. O mundo é uma grande escola. Apenas quando a criança começa a desenvolver sua consciência e fazer uso de suas faculdades intelectuais é que ela estará no caminho de seu pleno desenvolvimento. A perfeição vem com o tempo, o esforço acumulativo e pelos vários recalls que a pátria espiritual nos chama.
Assim, somos todos convidados a viver e a compartilhar do mundo, sendo a liberdade, o livre arbítrio e a responsabilidade condições inerentes dele. Nas palavras de Paulo de Tarso, “o que o homem tiver semeado, é isso que vai colher” (Gálatas 6, 7). Aliás, nada mais justo, nada mais lógico.