“Só a participação cidadã é capaz de mudar um país”, Herbert José de Sousa, “Betinho”, (1935-1997).
A vida social exige de todos contribuições diversas, afinal a construção da sociedade é tarefa de muitos, de todas as classes, independente de ideologias ou status social quando se pugna por bem-estar e, lógico, cidadania.
O homem, sujeito social, construtor da própria história, não pode alhear-se às suas obrigações, até porque é senhor e servo de direitos e deveres que lhes são imanentes e estão assegurados pelas normas vigentes que o afetam e, por extensão, a todos os demais membros da sociedade.
Bertolt Brecht, dramaturgo alemão do século passado, apresenta em síntese uma situação que já ocorreu, pode estar ocorrendo ou irá ocorrer em qualquer lugar, a qualquer tempo, em muito decorrente da indiferença e da omissão presentes no homem.
Eis o trecho de Brecht:
“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não sou operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Estão me levando
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo”.
Às vésperas da eleição nacional para escolha de prefeitos e vereadores as pesquisas realizadas em grandes, médios ou pequenos centros, apontam preferências e, também, perspectivas de anulação de votos, de ausências ao pleito ou de indecisos. Talvez, em grande parte, a explicação razoável para justificar a não participação, em quaisquer de suas formas, esteja vinculada à (falta de) formação do brasileiro (formal ou não) e à cultura existente que demonizam o mundo político pelas ações delituosas de uns, o que gera descrédito nos candidatos e, também, naqueles que representam a sociedade.
Educação é processo, em qualquer cultura ou país, e requer tempo para a consolidação das desejáveis transformações em planos de bem-estar e qualidade de vida, sempre alicerçados em elementos éticos e morais minimamente aceitáveis, requerendo sempre a participação mais efetiva da sociedade.
Há muito de verdade na afirmativa de que aquele que não vota, cede o seu espaço de participação a outrem que irá votar segundo seus próprios interesses; omissão cara para quem cedeu seu instante de escolha, abriu mão do seu direito de impedir “o ficha suja”, o despreparado, o aventureiro que busca servir a si mesmo et caterva. Assim, repete-se Brecht, “Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo”.
Mesmo que os procedimentos eleitorais brasileiros possam, ainda, apresentar falhas não há porque o descompromisso, ou conformismo: “ficar sentado, no trono de um apartamento… esperando a morte chegar”, como na canção de Raul Seixas (Ouro de tolo, 1973), exatamente porque muito mais aguarda a sociedade brasileira – em particular a sua juventude -, ansiosa por participação cívica de forma a desenhar-se livremente uma nação cidadã e, de preferência, pela participação consciente do voto.