“Então eu disse: Quem dera eu tivesse asas como a pomba; voaria até encontrar repouso! Sim, eu fugiria para bem longe, e no deserto eu teria o meu abrigo.” (Salmos 55.6-7)
Quando criança, como toda criança, em meus momentos de tristeza eu sonhava com outra vida, com outro lugar. Sonhava que era quem não era, mas queria ser… tudo isso acordado. Depois que cresci fiquei mais definitivamente enraizado aos fatos. Até sonho, às vezes, mas nada realmente forte como o sonho e a imaginação de uma criança. Já não sonho mais como antes, mas continuo refém do desejo de fugir. Minha alma as vezes diz: corra!
Quando a dor chega, a angústia se instala, quando perdemos e junto com a perda experimentamos a impotência de nada poder fazer, desejamos fugir. É assim desde sempre! O salmista, um poeta, fala de asas de pomba e de voar. Fala de um abrigo no deserto, talvez algum que tenha conhecido no passado. Nós simplesmente dizemos: eu queria sumir, ser invisível, desaparecer. Mas não há lugar para fuga. Por isso a alma diz “corra” e a gente não tem ideia de “para onde”.
Mas o salmista acabou encontrando um destino. Para onde ir, quando não queremos estar onde chegamos na vida? Para Deus! “Entregue suas preocupações ao Senhor” (v.22). Fazer isso não significa esvaziar as mãos e ficar sem dor. Significa partilhar a alma com Deus, crer que Ele se importa e está por perto. Significa aprender a lidar apenas com o agora, na presença de Deus, e desacreditar da mentira de que não há saídas, pois há. E então simplesmente pedir: “Senhor, leva-me para fora disso”. E Ele leva no momento certo, do jeito certo, para nosso bem.