Eu não tenho palavras para descrever a sensação de falta de ar, nem um grito, é algo visceral, como se tivesse arrancando o pulmão. O oxigênio é uma necessidade vital para nós seres humanos. Não existe greve de oxigênio, como existe a de fome, a morte vem rápido. A única questão é: A vida é frágil e o que está acontecendo em Manaus não está isento de reflexão.
De repente a vida oscila, por mais paradoxal que possamos pensar, entre uma inspiração e uma expiração e na falta de oxigênio, não existem pensamentos, só a agonia da morte, tantas pessoas nos hospitais de Manaus sendo puxados para o interior da ardente terra, por falta de um cilindro de oxigênio, para se transformar em cinza e pó. E não conseguímos explicar por que isso está acontecendo e num simples pedaço da existência, que é levar oxigênio aos pulmões, a vida se decompõe.
A armadura que construímos em volta do corpo sem o ar é quebrada, os profissionais da saúde são obrigado a ser cruéis contra as suas vontades! Mas, nunca se cansam de corajosamente tentar reanimar os pacientes da inação em que vivem. Dentro de instantes será o “nunca mais.” Os hospitais de Manaus estão como “câmaras de asfixia”.
Os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais e muitos dos que morreram procuraram um lugar num canto dos corredores dos hospitais para deitar-se no chão e simplesmente esperar o fim da vida. Não existe nada. Nem leitos, nem oxigênio. Por que falta oxigênio nos hospitais de Manaus? Afinal, como se
chegou a esse estado de verdadeira barbárie? O que significa a vida diante de tanta conversa e discurso? Nada significa nada.
Manaus se transformou num inferno. Os doentes morrem, porque não há como socorrê-los. Chegou-se a tal desmando que morrer em casa ou diante do hospital esperando um leito virou a coisa mais normal do mundo. Só que esse mundo hediondo é aqui no Brasil, particularmente em Manaus, onde se perdeu o controle de tudo. Onde falta tudo. E as pessoas morrem por asfixia na falta de oxigênio.
Pode-se aceitar um quadro assim? Não, não pode. A dignidade não aceita, parece que as pessoas são meros objetos imprestáveis que podem ser descartáveis a qualquer momento, mas os problemas que fizeram Manaus mergulhar nessa escuridão
em que os médicos dizem que não sabem quem escolher para viver ou morrer. Um país que tem escrito na sua bandeira “Ordem e progresso”, mas, na verdade, não existe nem progresso nem ordem. O que existe é muito descaso e desprezo pela vida.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.